Coreógrafo André Mesquita apresenta trabalho com a comunidade em Viseu
Porto Canal / Agências
Viseu, 25 set (Lusa) -- O resultado do processo criativo desenvolvido ao longo de dois meses pelo coreógrafo André Mesquita com 17 pessoas da região de Viseu é apresentado na sexta-feira e no sábado, no espetáculo de dança "Nós. Isto é o meu corpo".
"Para a maioria dessas pessoas, este é um território desconhecido, que pode ser um laboratório para encontrar e descobrir coisas que não sabíamos acerca de nós", explicou à agência Lusa André Mesquita.
Segundo o coreógrafo, que durante este ano é o artista residente do Teatro Viriato, de Viseu, há pessoas com as quais já tinha trabalhado em 2013, em "Heaven", e outras novas, num grupo variado que integra desde profissionais da área da saúde à da educação, passando pelo marketing.
"Há uma variedade grande e isso é que é trabalhar em comunidade. O 'Nós' tem muito a ver com isso, com a troca entre eu e eles e com essa definição de ser humano e animal social e do que acontece quando nos juntamos e partimos à procura de qualquer coisa", afirmou.
Para André Mesquita, o maior desafio foi o tempo, até porque o seu trabalho é "muitíssimo físico".
"O grau de exigência do qual eu parto é muito alto. Portanto, tem de haver uma preparação física muito intensiva, que é uma construção que leva tempo", acrescentou.
O coreógrafo partiu para este trabalho com a intenção de o basear na reflexão sobre "o puxão gravitacional e os pontos sem retorno", influenciado pela série "Cosmos".
"Falava muito sobre esses puxões gravitacionais, que têm a ver com os buracos negros e as forças de gravidade. E a gravidade é, sem dúvida, a ferramenta principal da pessoa que mexe, que dança", justificou.
Já os pontos sem retorno têm a ver com a experiência de alguns dos intérpretes no "Heaven", que "foi uma descoberta muitíssimo feliz, mas que de repente cessou, porque o coreógrafo foi embora".
"Tem a ver com a comunicação que existe entre mim e eles e o que fica e o que vai continuar a estar presente até uma próxima experiência. As coisas acontecem, têm um clímax, mas depois as pessoas retornam às suas vidas", acrescentou.
No entanto, André Mesquita admitiu que muito mudou desde a ideia inicial, até porque nos seus trabalhos parte sempre "de um lugar meio vago, em que tudo é possível e em que tudo pode ser explorado".
"Acabámos por partir de um pequeno trecho de um livro de Jean-Luc Nancy, que se chama 'Corpus'. Começámos a trabalhar algum material de improvisação com regras em função desse texto", explicou.
Neste momento, o coreógrafo considera que o trabalho final "tem a ver com a ideia de corpo/casa, do retorno à casa, com a nostalgia da saudade da casa, a nostalgia do corpo".
André Mesquita garantiu que aqueles que na sexta-feira e no sábado forem ao Teatro Viriato ver "Nós. Isto é o meu corpo", não encontrarão "uma narrativa, uma história contada".
"Vão, com certeza, encontrar uma narrativa do corpo ou muitas narrativas do corpo e vão ver pessoas a dançar mediante o tempo e a construção que é possível comigo", avançou o coreógrafo, defensor da ideia que "o público deve ter espaço para interpretar".
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