Estudo revela que jovens com deficiência enfrentam circulo vicioso de exclusão nas artes performativas
Porto Canal/Agências
Os jovens com deficiência continuam a enfrentar um círculo vicioso de exclusão no acesso às artes performativas, em que a inacessibilidade da formação superior limita a entrada no mercado de trabalho, alimentando a ideia de que não existe procura.
A conclusão consta do relatório “Aprender a Mudar”, divulgado esta quarta-feira a propósito do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, com base num estudo realizado pela On the Move, no âmbito do Europe Beyond Access (EBA).
A partir de inquéritos, entrevistas e grupos focais, que envolveram artistas com deficiência, organizações culturais e instituições de ensino superior, o estudo analisa as barreiras estruturais na formação superior em artes performativas nos países que integram o programa Europa Criativa, incluindo Portugal, e no Reino Unido.
Desde os exames de admissão, que não são adaptados às especificidades dos alunos, à falta de acessibilidade dos edifícios ou lacunas na comunicação institucional, os alunos reportam diversas dificuldades no acesso e na frequência dos cursos.
Do lado das instituições de ensino superior, apenas três em cada 10 ajustaram os requisitos de admissão, 41% adaptaram os testes realizados nessa fase e 27% fornecem informações em formatos acessíveis como Braile, áudio ou leitura fácil.
Já durante a experiência educativa, a avaliação que os alunos fazem da acessibilidade das instituições – analisada em nove áreas, numa escala de zero a 10 – é, em geral, baixa.
As principais falhas são a disponibilização de orientação sobre oportunidades de formação complementar ou de desenvolvimento profissional (4,44 numa escala de zero a 100), as infraestruturas (4,67) e os horários e intervalos (4,94) que, segundo os estudantes, não são adaptadas às suas capacidades e necessidades.
Por outro lado, referem também a falta de compreensão das necessidades de pessoas com deficiências invisuais e uma crença generalizada de que os artistas devem ter corpos “neutros”, sem características distintivas.
Entre os antigos alunos ouvidos no âmbito do estudo, apenas 30% recordam adaptações feitas pela instituição onde estudaram para atender às suas necessidades.
Alguns jovens com deficiência acabam por procurar caminhos alternativos de formação, onde relatam experiências tendencialmente mais positivas, mas das quais saem sem o “selo de aprovação” das instituições formais, cuja frequência faz diferença no mercado de trabalho.
Segundo o relatório, 49% dos artistas com deficiência formados em instituições de ensino superior participaram em, pelo menos, 15 produções profissionais, uma meta alcançada por apenas 24% dos artistas que não tiveram o mesmo percurso formativo.
Os problemas de acessibilidade relatados contrastam com os compromissos assumidos por cerca de 80% das instituições “no papel” com o acesso, a inclusão ou a diversidade.
Pelo contrário, menos de um terço tem orçamentos dedicados à acessibilidade ou dados sobre candidatos e antigos alunos com deficiência, discrepâncias reconhecidas por 86% dos funcionários das escolas superiores, que argumentam não existir procura para justificar esse investimento.
É uma espécie de círculo vicioso, em que quando a educação é inacessível, a entrada no mercado de trabalho torna-se limitada, reforçando a ideia errada de que não existe procura para a acessibilidade, alerta o relatório.
As recomendações passam por rever as leis no que diz respeito ao acesso universal ao ensino superior das artes performativas, criar programas de financiamento para promover a acessibilidade, ou rever as condições de admissão, currículos e horários.
O estudo recomenda ainda às organizações culturais que analisem a acessibilidade e a representação das pessoas com deficiência na programação e que colaborem com instituições de ensino e organizações especializadas.
À União Europeia, sugere-se o reforço dos principais valores setoriais relacionados com a diversidade, inclusão e acessibilidade no âmbito de estruturas e programas políticos.
