Rui Moreira alega que canibalizaria espaço político de Mendes caso se candidatasse
Porto Canal/Agências
O presidente cessante da Câmara do Porto Rui Moreira considerou esta quinta-feira que uma sua eventual candidatura presidencial seria redundante face à presença de Marques Mendes, poderia dispersar votos e canibalizar o mesmo espaço político.
No seu discurso de apresentação como mandatário nacional da candidatura de Marques Mendes, numa sessão em Lisboa, Rui Moreira, autarca do Porto desde 2013, sempre eleito em listas independentes, falou sobre as razões que o levaram a abdicar de entrar na corrida a Belém.
Rui Moreira alegou que, depois de uma reflexão, se tornou evidente que uma sua hipotética candidatura e a de Marques Mendes “eram redundantes por serem estribadas nos mesmos princípios”.
“Havia o risco de as duas candidaturas se canibalizarem e gerarem uma dispersão de votos. Sabemos bem quem beneficiaria com essa dispersão de votos: Seriam aqueles candidatos que abominam a política ou dela têm uma visão de sacristia”, argumentou.
Neste ponto, Rui Moreira foi mais longe sobre quem, na sua opinião, beneficiaria com uma sua candidatura.
“Aqueles candidatos que querem quebrar o equilíbrio de poderes e desvirtuar a natureza do regime, aqueles candidatos que ameaçam destruir o sistema e sonham com uma quarta república de cariz iliberal, aqueles candidatos que amesquinham a democracia portuguesa e fazem da política mero palco para a sua egomania”, indicou.
Embora sem nunca mencionar o Chega, o presidente cessante da Câmara do Porto avisou que atualmente se assiste ao “recrudescimento de narrativas radicais e antissistémicas, a que por simplismo designamos por populistas”.
“Não há hoje qualquer razão para escolhermos caudilhos ou homens que se julgam providenciais. Esse tempo já lá vai e de tão infausto não deixa saudades. Portugal precisa de um chefe de Estado com experiência, conhecimento e autoridade, alguém que tenha provas dadas como estadista e reconhecida competência na gestão do bem comum”, contrapôs.
No seu discurso, Rui Moreira defendeu a tese de que as próximas eleições presidenciais apresentam mais analogias com as primeiras de 1976 - em que estava em causa uma tentativa de subversão da jovem democracia - do que com as de 1986. E deixou então mais um aviso sobre riscos de “perversão do sistema semipresidencial”.
“Riscos, esses, que advém da possibilidade de eleição de candidatos sem noção ou respeito pela filigrana de equilíbrios institucionais do regime, de candidatos com uma visão messiânica da política e de si próprios, de candidatos dispostos a usar a Presidência da República como trampolim para a governação do país, de candidatos com o objetivo declarado de minar o regime democrático e se imiscuírem, ilegitimamente, na esfera de outros poderes”, advertiu.
Em contraponto, na sua perspetiva, “num cenário futuro, em que a governabilidade estará frequentemente em causa”, Portugal precisa “de um chefe de Estado capaz de mediar os diferentes poderes institucionais e forças políticas”. “De um chefe de Estado que não caia na tentação de governamentalizar a presidência ou mesmo de reencarnar uma espécie de sidonismo fora de época. De um chefe de Estado que não seja um fator de disrupção do regime e que não contribua para a tribalização da sociedade portuguesa”, acrescentou.
