O incêndio passou, mas deixou marcas nas freguesias de Penafiel
Inês Saldanha
O incêndio que deflagrou na passada terça-feira no concelho de Penafiel e que rapidamente se propagou a Gondomar entrou em fase de resolução às 11h59 de sexta-feira. Durante vários dias, o fogo consumiu áreas florestais, forçando os habitantes das freguesias de Canelas, Sebolido e Rio Mau a abandonar as suas casas e a procurar proteção.
Na freguesia de Canelas, Rosa Rocha viu-se obrigada a deixar a sua habitação, situada junto à Serra da Boneca, uma das zonas mais atingidas pelo incêndio.
“Todos os anos é assim, desce a serra da Boneca e chega rapidamente a minha casa”, lamentou.
Mal o fogo começou a alastrar-se, abandonou a sua casa juntamente com os dois netos e soltou o seu cão, Ben-uron, que já “está habituado a fugir para o lar de idosos”. Foi aconselhada por dois agentes da GNR a abandonar o local, mas reconheceu que já tencionava ir embora de qualquer forma.
“Os bombeiros não chegaram a tempo. Também não havia aeronaves. Não dá para todos”, desabafou, acrescentando que regressou a casa por volta das 22h00 de quinta-feira.
Ver esta publicação no Instagram
Apesar de o incêndio deste ano não ter provocado os danos de 2017, as memórias desse episódio permanecem vívidas para Rosa Rocha.
“Em 2017, arderam cinco persianas e uma janela estalou. Foi muito pior do que este ano, mas nem pensei duas vezes. Deixei logo a minha casa”, recorda, acrescentando que fugiu com os dois netos.
Em Rio Mau, as chamas atingiram zonas agrícolas e florestais, pondo em risco meios de subsistência. David Sousa, apicultor desde os 14 anos, teve de recorrer a soluções improvisadas para proteger o seu apiário.
“Começou a arder, mas nunca pensei que iria chegar aqui. Não tiramos as abelhas. Há muitos fogos e os bombeiros não chegaram até aqui”, explicou
Com a ajuda de amigos e conhecidos, utilizou 50 garrafões de água para conter as chamas.
“Foi a nossa sorte. Quando nos sentimos apertados, começámos a deitar a água em cima de nós e à nossa frente”, descreveu.
Utilizaram ainda máscaras para se protegerem do fumo. Embora as colmeias tenham sido salvas, os impactos não ficaram por aí.
“O alimento das abelhas são as flores. Sem flores, não há alimento. Agora tenho que comprar alimento para elas”, considerou, quando questionado sobre eventuais apoios estatais.
David Sousa mostra-se pouco confiante quanto a apoios. Recorda que, em 2017, perdeu 16 colmeias e não recebeu “ajudas nenhumas”.
Também na freguesia de Sebolido, o incêndio fez-se sentir. As chamas atingiram uma sucata local, onde vários veículos acabaram por arder.
O vereador da Proteção Civil de Penafiel, Rodrigo Lopes, afirmou à agência Lusa que não há registo de habitações destruídas, embora tenha reconhecido que o mesmo não aconteceu com “uma pequena sucata e um ou outro abrigo agrícola”.
“Em área ardida, estima-se que, na parte de Penafiel, esteja próximo dos 900 hectares, o que é muito para um incêndio só”, referiu.
