Mural de azulejos do projeto "Cumprir" no Porto é inaugurado este mês na Trindade

Porto Canal/Agências
A estação de metro da Trindade, no Porto, vai acolher um dos painéis de azulejos colaborativos criados no âmbito do projeto “Cumprir”, que assinala os 50 anos do 25 de Abril de 1974, e é inaugurado este mês.
De acordo com Miguel Januário, responsável pela conceção artística do projeto, a inauguração do painel com 9,5 metros de largura e 3,25 metros de altura, composto por 736 azulejos, está marcada para 30 de março.
O projeto “Cumprir”, que inclui um outro painel, inaugurado em outubro numa parede perto da estação ferroviária do Rossio, contou com a participação de cerca de 1.500 pessoas de várias idades e origens.
“Cumprir”, que remete para a ideia de se cumprirem os ideais de Abril e os artigos da Constituição da República Portuguesa, começou a ser pensado no início de 2023.
Nessa altura, o Partido Comunista Português (PCP) desafiou o artista a “pensar num projeto público no qual participassem outros artistas”. Entretanto, o projeto “estendeu-se também à comunidade”, contou Miguel Januário à Lusa em outubro, aquando da inauguração do mural de Lisboa.
Por isso, no mesmo painel é possível encontrar-se azulejos pintados por artistas como Vhils, Capicua, Gonçalo Mar, AkaCorleone, Tamara Alves, Fábio Colaço e Beatriz Gosta, ao lado de outros da autoria de crianças e de adultos e idosos com as mais variadas origens e profissões. “Todo o tipo de gente”, sublinhou Miguel Januário.
Ao longo do ano passado e no ano anterior foram realizadas várias oficinas, a primeira das quais na Festa do Avante em 2023. As oficinas, “sempre abertas à comunidade”, aconteceram em espaços como o Maus Hábitos e a Voz do Operário, em associações, bairros e nos Centros de Trabalho do PCP, em Lisboa e no Porto.
Nas oficinas, os participantes eram desafiados a pensar sobre o cumprimento, ou não, de Abril e da Constituição.
Nos azulejos “há muitas abordagens daquilo que é Abril”. “Coisas sobre a Educação, a Paz, a Justiça, sindicatos, o direito a brincar, reivindicações”.
No final das oficinas, Miguel Januário teve de pensar como seriam colocados os azulejos nos dois murais.
Nesse processo, começou por dividi-los por cores. “Usámos [para pintar] vermelho, preto, amarelo e verde, e o branco [base] do azulejo. Tínhamos 50% de azulejos brancos e os outros 50% com base de cor, tanto no Porto como em Lisboa. Sendo que dos 50% com base de cor metade era vermelho”, contou.
Os azulejos foram colocados de forma a que ficasse um cravo gigante, “em pixel”, no meio de cada painel.
Para o caule foram usados os azulejos onde o verde predomina e para as folhas os vermelhos. “À volta tens azulejos brancos, para dar iluminação ao cravo, e nos cantos ficam os [azulejos] mais escuros, para fazer uma espécie de moldura do painel”, descreveu.
Além de pensar os murais e de acompanhar todas as oficinas, o artista pintou também alguns azulejos, que estão no meio dos painéis a formar a palavra “Cumprir”, “que está disfarçada”.
“As letras estão lá no meio, mas incompletas. As letras de ‘Cumprir’ estão por cumprir, porque falta cumprir muito”, disse.