Diretores de serviço da Unidade Local de Saúde de Gaia/Espinho preocupados com substituição do Conselho de Administração
Porto Canal/ Agências
Quase meia centena de diretores de serviço da Unidade Local de Saúde de Gaia/Espinho (ULSGE) reiteraram esta segunda-feira “muita preocupação” face à possível substituição do atual conselho de administração, insistindo que o desempenho e o mérito devem prevalecer.
Em declarações à agência Lusa, o diretor de imagiologia da ULSGE, Pedro Sousa, um dos signatários de um abaixo-assinado enviado à tutela e à Presidência da República, disse que “há uma preocupação crescente” nesta unidade de saúde face à possível saída da equipa liderada por Rui Guimarães, cujo mandato terminou em dezembro.
“Os indícios de que a tutela pretende mudar o conselho de administração são cada vez maiores e daí a intensificação do apelo que queremos passar (…). O que aqui está em causa é a recondução ou não da equipa do doutor Rui Guimarães. Se essa equipa não tivesse tido um bom desempenho, obviamente que não tinha havido este movimento quase unânime de apoio a este conselho de administração”, disse o médico radiologista.
Pedro Sousa e outras dezenas de diretores de serviço querem que Ministério da Saúde liderado por Ana Paula Martins os ouça e “tenha em conta duas palavras de ordem” quando fizer a nomeação para o conselho de administração da ULSGE: “As palavras de ordem são ‘mérito’ e ‘competência’”, disse.
À Lusa, um dos promotores do abaixo-assinado que seguiu para Marcelo Rebelo de Sousa, mas também para o gabinete do primeiro-ministro, da ministra da Saúde, bem como para a Direção-Executiva do SNS, disse ter conhecimento de que deu entrada, “há uma semana”, na Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CReSAP) a lista para o novo conselho de administração da ULSGE, uma lista feita sem ouvir a atual administração.
“Desconhecemos o teor e a composição, mas o atual conselho de administração não foi auscultado e isso não é um bom indício. Não compreendemos”, referiu Pedro Sousa.
Para o diretor, “não reconduzir Rui Guimarães é quase como ter um aluno de 19 ou 20 valores que deve ser premiado e não o é”.
“O nosso receio é que o aluno que teve um excelente desempenho, venha a ser convidado a sair da escola quase como castigo por ter tido tão excelente desempenho. Isto seria caricato e pouca gente perceberia. Nós, diretores de serviço, não percebemos”, acrescentou.
Sublinhando que “o apoio nos dias atuais e antes demonstrado existe porque o desempenho foi notável”, o médico vinca ainda: “Os indicadores são públicos – sabem-no os profissionais de saúde, a população de Gaia e a de Espinho – e portanto o que desejávamos era que o mérito fosse reconhecido”.
Este é o segundo-abaixo assinado sobre o mesmo tema enviado à tutela em menos de meio ano.
O primeiro, enviado em julho, foi assinado por diretores de serviço clínicos, bem como por não clínicos, num total de quase seis dezenas de nomes.
A atual administração da ULSGE tomou posse em 2019.
Rui Guimarães foi nomeado diretor clínico do Hospital de Barcelos durante o governo de Pedro Passos Coelho, tendo sido conduzido para o Centro Hospitalar Gaia/Espinho quando Marta Temido tutelava a Saúde no primeiro governo de António Costa.
Em dezembro, o Ministério da Saúde demitiu pelo menos três conselhos de administração de ULS: Lezíria, Alto Alentejo e Leiria.
A direção-executiva do SNS justificou estas mudanças como “novas abordagens de gestão”.
Além de Vila Nova de Gaia, preveem-se mudanças nas ULS do Alto Minho, Braga, Barcelos/Esposende e Vila Real pelo menos.
Na segunda-feira também o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, considerou “incompreensível” que estejam a ser equacionadas mudanças na administração da ULSGE e pediu uma reunião urgente à ministra da Saúde.
Em comunicado, o município disse estar “surpreendido com as notícias divulgadas nos últimos dias sobre a eventual substituição da administração da ULSGE” e anunciou que solicitou à ministra da Saúde “uma rigorosa análise da situação para evitar injustiças inadmissíveis num setor já muito marcado por problemas”.
“É incompreensível que se façam mudanças desta importância sem atender ao trabalho de excelência que tem sido feito”, lia-se na carta partilhada com a Lusa.
Para Eduardo Vítor Rodrigues, “a atual administração tem desenvolvido um trabalho ímpar, com claras conquistas para a comunidade e para a região”.