Língua mirandesa tem 'podcast' e primeiro 'e-book' com 15 contos
Porto Canal / Agências
A Associação de Língua Mirandesa editou o primeiro 'e-book' em mirandês, que resulta da transcrição de contos publicados num ‘podcast’ para tornar a língua acessível a novos falantes através da leitura e do áudio, anunciou a associação.
“Este trabalho é o resultado da transcrição de contos publicados em áudio e que fazem parte de um 'podcast' com a designação de 'Terreiro de la Lhéngua 25', num total de 15 contos. O 'e-book' dá a oportunidade de se estar a ler o conto e ao mesmo tempo acompanhar o áudio referente aos textos, em simultâneo”, explicou à Lusa, Alcides Meirinhos, membro da Associação de Língua e Cultura Mirandesa (ALCM).
Segundo este responsável da ALCM, a grande novidade deste trabalho é poder associar o áudio à escrita e ao mesmo tempo criar uma via para que o mirandês também possa chegar a pessoas com limitações auditivas e visuais.
“O tema desta primeira edição deste projeto-piloto, que abrange a segunda língua falada em Portugal, centrou-se em contos vários e temáticas diversas, em mirandês, contando com a colaboração de escritores como Amadeu Ferreira, Adelaide Monteiro, Alfredo Cameirão, Carlos Ferreira e Suzana Ruano”, além do próprio Alcides Meirinhos.
A edição digital conta ainda com ilustrações originais da ‘designer’ gráfica mirandesa, Ana Rita Afonso (Ana Manjora).
“Este trabalho resulta de um projeto que foi aprovado e apoiado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte [CCDR-N], no que se refere ao 'e-book' e ilustrações”, explicou Alcides Meirinhos.
O ‘podcast’ nasceu em 2021 e, desde então, soma novos episódios de duas em duas semanas.
Este “podcast’ está alojado na página da Casa Comum da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, sob o nome “Terreiro de la Lhéngua 25”, e também na plataforma de 'streaming' Spotify.
“Através deste sistema de difusão já foram publicados 89 episódios em áudio", dos quais provêm os 15 contos que compõem "este projeto tido como inovador”, disse Alcides Meirinhos.
Para a ALCM, estas ferramentas são fundamentais para promover e valorizar a visibilidade da língua lirandesa - estão ao alcance de qualquer pessoa, em qualquer lugar, através de um 'tablet' ou 'smartphone', constituem uma alternativa de divulgação e aprendizagem do mirandês e permitem ainda mitigar entraves à leitura e fonética própria deste idioma com séculos de existência e raizes muito anteriores à nacionalidade portuguesa.
O mirandês passou a segunda língua oficial em Portugal há 26 anos, após a aprovação, na Assembleia da República, em 17 de setembro de 1998, da lei que reconhece esse estatuto ao idioma falado no Nordeste Transmontano.
O mais recente estudo feito pela Universidade de Vigo, com apoio e colaboração da ALCM, concluiu que haverá cerca de 3.000 falantes de mirandês na Terra de Miranda e, se nada for feito, a língua caminhará para o seu declínio.