Estudo de 2023 sobre cuidados paliativos reduziu afluência às urgências em Gaia
Porto Canal / Agências
Um estudo da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos (ECSCP) de Gaia, que decorreu durante o ano 2023, evitou entre 2000 e 2500 recorrências às urgências nesse período, foi esta quarta-feira anunciado.
Publicado em 29 de novembro na revista internacional Journal of Primary Care & Community Health, o estudo “avaliou vários indicadores de qualidade e performance em Cuidados Paliativos (CP) e a transição de cuidados para a Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos (ECSCP) Gaia, numa avaliação pormenorizada de 450 processos clínicos de doentes”, revelou à Lusa o líder da equipa, Hugo Ribeiro.
“Trata-se de um artigo com uma importância central para a organização do sistema de saúde português, sendo a única publicação internacional que avalia a transição de cuidados de uma perspetiva multidimensional, biopsicossocial e organizacional”, assinalou o especialista.
Para além do também médico paliativista e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o estudo teve a colaboração da professora da FMUC e diretora do Centro de Estudos e Desenvolvimento dos Cuidados Continuados e Paliativos, Marília Dourado, e dos professores da FMUP, José Paulo Andrade e João Rocha Neves.
Sobre os resultados alcançados, Hugo Ribeiro destacou que o acompanhamento psicológico aos doentes e famílias passou de 6,4% para 100% e que a garantia de direitos sociais básicos (como complemento por dependência e atestado multiúsos) passou de 50% para 100%.
Para além disso, continuou o docente, registou-se uma “mudança significativa na prescrição médica, com controlo mais eficaz de sintomas, redução da medicação potencialmente inadequada, aumento da qualidade de vida e sobrevivência maior do que era expectável”
Hugo Ribeiro destacou ainda a “aposta em medicação em SOS e ensinos ao cuidador, fator que foi significativamente relacionado com a capacidade de cuidar em casa e promoveu tranquilidade a quem cuida”.
Para além da redução das recorrências ao serviço de urgência hospitalar, a equipa assinalou que o “estudo contrapôs a recomendação europeia de números mínimos de médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos nas equipas de cuidados paliativos, propondo o aumento significativo destes números para serem atingidos resultados idênticos aos desta equipa”.
Da análise feita ressaltou ainda uma “reflexão sobre as diferenças significativas de abordagem em medicina paliativa, sugerindo a necessidade de mais e melhor formação na área”, disse Hugo Ribeiro.
Segundo o chefe da equipa do estudo, “a avaliação pormenorizada de 450 processos clínicos de doentes acompanhados por esta equipa em 2023, afirma a Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos de Gaia “como um dos melhores centros mundiais de prestação de Cuidados Paliativos, com uma casuística impressionante no cenário internacional”.