Entre rabiscos e aguarelas, o diário gráfico de Vasco Mota faz uma viagem pelo Porto
Porto Canal
Após escolher o local, Vasco Mota senta-se no seu “banquinho”, abre o diário gráfico e coloca ao seu lado, os pincéis e a tábua de aguarelas. Sem pressa, começa a desenhar e deixa que as linhas se entrelacem com a vida que pulsa à sua volta. O Porto, com as suas ruas e detalhes únicos, é o seu maior campo de exploração. O urban sketching, que começou por ser uma diversão, tornou-se na sua principal ocupação, através do projeto "Rabiscar o Porto", hoje apoiado pela Ágora.
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Desenhar a cidade não se trata apenas de reproduzir edifícios e ruas. É também captar as vibrações, as cores e as histórias que ecoam em cada esquina. Quem o diz é Vasco Mota, jovem ilustrador e autor do projeto "Rabiscar o Porto". Para onde quer que vá, o jovem artista transporta consigo a cidade num caderno gráfico, onde conta com várias ilustrações da cidade.
“A minha paixão pela arte começou de uma forma muito crua, muito processual. Foi mais sobre conhecer o trabalho dos artistas, sobre absorver o que vi e aprender com eles”, revelou Vasco, que começou a sua jornada na ilustração de uma forma quase intuitiva.
Ao contrário da maioria, Vasco não cresceu com lápis na mão desde criança, mas sim com uma curiosidade imensa pela arte e pelo processo que leva à criação. “O segredo é não ter medo de errar e aprender com os outros”, revelou.
O jovem, que atualmente está a concluir o mestrado em Design Gráfico, acredita que a ilustração é uma das formas mais poderosas de expressão. Dedica-se ao urban sketching, uma prática que vai muito além da simples ilustração: “É uma técnica que consiste em desenhar no local, à vista de todos, absorvendo a paisagem e as pessoas à nossa volta. A grande beleza está no processo, na troca de ideias com outros artistas e na convivência com a cidade que nos inspira.”
O Porto, com suas ruas sinuosas e fachadas desgastadas pelo tempo, é o palco perfeito para as criações de Vasco. “Eu prefiro não ir pelo óbvio. Gosto de explorar o que a cidade tem de mais genuíno, as ruelas e as lojas que passam muitas vezes despercebidas. É um Porto mais esquecido, mas também mais autêntico”, conta.
Não é de admirar que Vasco tenha feito da cidade o seu estúdio ao ar livre, desenhando não apenas os pontos turísticos mais conhecidos, mas também os detalhes que fazem do Porto um lugar único.
Este olhar atento e não convencional é uma das marcas do seu trabalho. Vasco não só retrata o que vê, mas busca a essência do lugar, a história que ele carrega. “Às vezes, após passar por um local, penso: ‘Este é o conceito para desenhar’. No dia seguinte, volto e dou vida a essa imagem. É como se estivesse a redescobrir a cidade a cada traço”, explica.
E essa procura pela autenticidade do Porto estende-se para outros cantos do país e do mundo, como Lisboa, Caminha e até o Luxemburgo, onde o artista já realizou viagens dedicadas exclusivamente à sua arte.
Projeto apoiado pela Ágora
O projeto "Rabiscar o Porto", criado em 2021 por Vasco, é a concretização desse desejo de partilhar com outros a beleza e a magia da ilustração urbana.
Inicialmente um encontro informal de artistas, o projeto cresceu e foi abraçado pela Ágora do Porto, tornando-se parte integrante da vida cultural da cidade. “O projeto foi crescendo, e agora é mais sério, com a participação em vários eventos e encontros. Isso mostra a importância de dar a conhecer o que fazemos, de sair da nossa zona de conforto e partilhar a nossa visão”, afirma o ilustrador, que já participou no Dia Nacional dos Centros Históricos, por exemplo.
A sua abordagem ao desenho é despreocupada, mas carregada de significado. “O desenho não precisa ser hiper-realista. Ele é, na verdade, uma forma de expressão. Gosto de usar linhas sinuosas, mais expressivas, que capturam a essência do que vejo. As cores da cidade do Porto, com toda a sua energia, são também uma grande inspiração para o meu trabalho”, explicou.
O sonho de Vasco é expandir a sua arte para além das fronteiras. Exposições de diários gráficos, com o seu olhar único sobre o mundo, estão nos seus planos. “Gostava muito de criar o meu próprio estúdio, onde pudesse conciliar o design gráfico com a ilustração. Acredito que há uma enorme possibilidade de integrar essas duas áreas e de criar algo inovador.”
Através do seu trabalho, Vasco Mota não só retrata a cidade, mas também nos convida a olhar para ela com outros olhos.