André Villas-Boas: “Ser portista é lutar sempre para nos superarmos”
Porto Canal
Porque “o FC Porto é, acima de tudo, uma comunidade de paixão e compromisso”, André Villas-Boas despediu-se de Luanda com um discurso na “casa dos portistas em Angola” durante o qual sublinhou a vontade de “continuar a reforçar a presença” do clube, “construir pontes ainda mais robustas e deixar um legado de cooperação” naquele país, “não só no desporto, mas também social e cultural”.
No epílogo da tomada de posse dos novos órgãos sociais da delegação, que “fazem parte da grande família” azul e branca, o presidente lembrou que “a história do FC Porto é feita de superação, de trabalho árduo e da capacidade de concretizar sonhos”, reforçou que “ser portista é acreditar no trabalho e na dedicação empenhada, é lutar sempre” e afirmou estar “na hora de dar mais força a esse compromisso”.
“Obrigado à Casa FC Porto de Luanda por nos proporcionar um momento que dá mais propósito à nossa existência enquanto clube, e uma experiência a nível pessoal que jamais irei esquecer”, declarou o dirigente certo de que “por trás de cada vitória há trabalho e compromisso com a comunidade” e que “o FC Porto está aqui para ficar, quer ser uma marca ainda mais relevante em Angola e contribuir para o crescimento do desporto angolano”.
A casa dos portistas em Angola
“Deixo um cumprimento especial e caloroso de reconhecimento ao presidente Rochinha e aos restantes corpos sociais da Casa do FC Porto de Luanda. Nas vossas pessoas, saúdo todos os sócios e simpatizantes do FC Porto em Angola, sobretudo os que são amigos desta magnifica embaixada do FC Porto, que é a Casa do FC Porto em Luanda. A nossa casa dos portistas em Angola.”
Terra de oportunidades
“É com enorme honra e emoção que estou convosco, nesta belíssima cidade de Luanda, para celebrar a amizade e os laços históricos que unem Angola ao FC Porto. Este encontro simboliza mais do que uma visita. É a reafirmação de um vínculo que transcende fronteiras e, permitam-me, que transcende o futuro. Angola e Portugal são países que a história uniu, que o destino nunca separará. Seremos sempre povos unidos por laços que nunca se quebrarão. Qualquer obstáculo que surja no nosso caminho será sempre superado pela ligação fraterna que existe entre os cidadãos dos nossos dois países. Angola, é uma terra de oportunidades, cultura vibrante e um potencial humano imenso. Luanda é também uma cidade com um coração portista enorme. Os valores que nos animam são os mesmos. Aqui viemos empenhados em continuar a reforçar a presença do FC Porto. Acreditamos que juntos, podemos e devemos construir pontes ainda mais robustas e deixar um legado de cooperação, não apenas no desporto, mas também social e cultural.”
Uma grande família
“O FC Porto é, acima de tudo, uma comunidade de paixão e compromisso. Aqui sinto essa mesma energia, essa mesma dedicação e amor pelo nosso clube. A história do FC Porto é feita de superação, trabalho árduo e a capacidade de sonhar alto e de concretizar sonhos. Reconheço, aqui em Luanda, cidade geminada com o Porto, essas mesmas qualidades no vosso povo: resiliência, força e a determinação de construir um futuro brilhante. Portanto, a nossa presença aqui, é o reafirmar do nosso compromisso com todos os angolanos, sobretudo aqueles que são portistas. Vocês fazem parte da nossa grande família.”
Trabalho, dedicação, luta e supração
“Quando o FC Porto entra em campo, seja em Portugal, seja em qualquer canto do mundo, leva consigo a força e o apoio de cada um de vocês. Ser portista é acreditar no trabalho e na dedicação empenhada, é lutar sempre para nos superarmos. É sabermos, em campo ou na bancada, que o que faz de nós melhores é o compromisso com a superação. A nossa relação com Angola não é de agora, mas está na hora de dar mais força a esse compromisso. Aqui se fizeram jogadores que, com rigor e disciplina, carregaram e carregam o nome do nosso clube com orgulho e talento. Jogadores como os irmãos Boavida, Carlos Duarte, Miguel Arcanjo, o saudoso Seninho, Freitas, Penteado, Dinis, Jorge Plácido, Quinzinho, Pedro Emanuel, Chainho, Djalma, David Carmo e mais recentemente Domingos Andrade, entre tantos outros, fizeram e farão parte da nossa história e têm as suas raízes intimamente ligadas a este maravilhoso país.”
Um momento gratificante
“Sobre o programa que cumprimos nesta nossa deslocação, onde desde logo sentimos o carinho, amabilidade e hospitalidade do povo angolano, quero deixar-vos algumas palavras. A visita à Missão Católica de Calomboloca, onde pudemos contactar com aquelas crianças maravilhosas, apoiadas por pessoas para as quais tenho dificuldade em encontrar palavras para homenagear e que revelam o espírito altruísta de todas as pessoas envolvidas com a Casa do FC Porto de Luanda, desde os seus órgãos sociais, aos seus sócios e benfeitores bem como as irmãs Franciscanas de São José. O vosso trabalho é louvável em todos os sentidos, o apoio e a formação que lhes é ministrado por aquela Congregação é uma base para que possam vir a ser cidadãos mais completos, mas que sobretudo que possam crescer com as condições mínimas a que todo o ser humano deve ter acesso. A saúde, o ensino, o bem-estar e a prática do desporto. Naquelas pequenas lembranças com que contribuímos vai também a esperança de que os valores do desporto e do FC Porto sejam auxiliares para que acreditem em si e cresçam na harmonia e compromisso com a comunidade. Obrigado à Casa FC Porto de Luanda por nos proporcionar um momento que dá mais propósito à nossa existência enquanto clube, e uma experiência a nível pessoal que jamais irei esquecer.”
Pontas de lança em África
“Em segundo lugar, a minha visita à Casa FC Porto de Luanda. Nesse belo espaço se fazem muitos adeptos e associados do FC Porto, angolanos e portugueses que se identificam e revêm nos nossos valores e comungam dessa alegria. Que todas as semanas vibram com o nosso clube e que tendo oportunidade nos visitam nessa Casa e sempre que podem no nosso estádio. Também para esses, sobretudo para esses que são a nossa razão de ser, está na hora de reafirmarmos e tornarmos mais efetivo o nosso compromisso e lhes darmos mais razões para alimentarem a nossa chama. Para que isso aconteça, a Casa FC Porto em Luanda tem sido um dos nossos mais relevantes pontas de lança. Ser uma casa do FC Porto é ser muito mais que um espaço onde nos juntamos para ver um jogo ou apenas conviver. Ser Porto é fazer acontecer, é criar e dinamizar uma comunidade que tem como objetivo concretizar os nossos valores, desportivos e sociais. É isso que nos distingue dos outros. Desde a nossa fundação, em 1893, sabemos que por trás de cada vitória há trabalho e compromisso com a comunidade. Ser FC Porto e por extensão orgânica, ser da Casa FC Porto em Luanda, é deixar marca na comunidade, é fazer parte dela e contribuir para o seu melhoramento contínuo e nesse campo vocês têm sido inexcedíveis. São já várias as marcas feitas de um percurso que vos orgulha e a nós, casa-mãe, nos honra. Bem hajam!”
Viveiro de talentos
“Em terceiro lugar, a minha deslocação à Academia de Futebol de Angola que serviu dois propósitos. O primeiro, o aferir da qualidade com que se está a trabalhar o futebol de formação e o segundo o de projetar a base de entendimento para uma cooperação futura entre as duas instituições. Seja qual for o vínculo que venha a ser estabelecido no futuro contem desde já com o FC Porto para a dinamização e estreitar das relações humanas e institucionais na esperança da criação de novas sinergias de colaboração e cooperação.”
Em Angola para ficar
“Por fim, e sem querer ultrapassar os limites da privacidade que se exige no âmbito das reuniões que hoje tivemos com o Ministro da Juventude e Desportos de Angola e com o Governador de Luanda, dizer-vos que o FC Porto está aqui para ficar, quer ser uma marca ainda mais relevante em Angola e contribuir para o crescimento do desporto angolano, beneficiando de todo o seu potencial, mas também como forma de estar próximo de tão maravilhosa nação de portistas aqui presente. As reuniões levaram-nos para os mais variados campos do desporto. Não só os que dizem respeito a tudo o que advém de positivo relacionado com a prática do mesmo - o valor da superação, da cooperação, da transcendência e do esforço em prol de um bem superior - como também do que negativo se trata como a exclusão, a discriminação e a desigualdade de género. O deslumbramento pelo crescimento da indústria do desporto é algo que nos convoca para algumas preocupações.”
O caso Cardoso Varela
“Fala-se muito nos milhões que se ganham, dando a ilusão que os atletas atingem o estrelato quase que por toque divino. Mas fala-se pouco que, por trás, mais vezes do que aparece nas primeiras páginas, também há milhões que se perdem à custa de sonhos de jovens que são explorados por pessoas sem valores. O tráfico humano é um dos reversos dessa medalha. Clubes como o FC Porto e instituições angolanas são vítimas desse flagelo que acrescem os danos irreversíveis causados aos jovens atletas. É publico, que nos últimos meses, às mãos de um grupo de empresários, o FC Porto viu-se privado de um atleta menor de idade de nome Cardoso Varela, natural de Angola, a quem demos formação desportiva e académica e apoio familiar. Por um valor abaixo do seu real valor, em que a maioria do recebido nem lhe chegará às mãos, pretenderam esses ditos empresários, transacioná-lo para um clube amador na Croácia ao abrigo de uma exceção à lei de proteção de menores, apenas existente naquele país. Para o conseguirem pegaram no jovem obrigando-o a viver escondido e sem nenhum poder de escolha ou tomada de decisão relativamente ao seu futuro. Por um punhado de dólares, não se importam de pôr em causa a formação e o são desenvolvimento desse jovem. Normalmente, os clubes vítimas destes esquemas encaixam a sua perda em silencio. Nós não o faremos, iremos fazer todos os esforços para recuperar o jovem jogador, e expor à lei civil e das instâncias desportivas, os responsáveis por este comportamento criminoso. Estamos orgulhosos de ter a FIFA ao nosso lado bem como as instituições Portuguesas e Angolanas, e também o papel fundamental que jogou em todo este processo o General Alves Simões e o General Capingana na aproximação à mãe do jovem atleta em solo Angolano. Duas personalidades que, pelo envolvimento altruísta e apoio que disponibilizaram, revelaram serem homens comprometidos com a defesa dos mais altos valores humanos.”
Eternamente grato
“Terminando a reunião falamos na aposta em infraestruturas e na formação, na formação de agentes e dirigentes, médicos e formadores, sabendo que as boas práticas são fundamentais para que não sejam dados passos em falso. Publicamente, devo realçar a preocupação do Senhor Ministro da Juventude e dos Desportos com estes temas, e sei que teremos alguém empenhado nesse desígnio. Tudo isto muito aumentou a nossa vontade de cooperação convosco e sermos um player reconhecido neste fortalecimento de relações. Para terminar este discurso que já vai longo e porque tudo o que diga vai a mais, Portugal e Angola estão juntos pela língua comum que alimenta a lusofonia, e pela linguagem universal do Desporto. Espero poder retribuir toda a vossa generosidade e apoio, todo o amor incondicional que senti em solo angolano e saio daqui junto com os meus órgãos sociais de coração cheio pelo vosso amor. Obrigado a todos aqui presentes, Obrigado a Angola, que, estou certo, será um país cada vez mais azul e branco no futuro. Obrigado, nas pessoas dos Dragões Agostinho Rocha e Ministro Furtado, à Casa FC Porto em Luanda por serem, aqui, todos os dias, o FC Porto. A todos os vossos sócios e amigos o meu muito obrigado. Viva Luanda, viva Angola, viva o Futebol Clube do Porto!”