Matadouro é “um exemplo de resistência, é um projeto muito portuense”, frisa arquiteto

Matadouro é “um exemplo de resistência, é um projeto muito portuense”, frisa arquiteto
Guilherme Oliveira
| Porto
Pedro Benjamim

A reconversão do antigo Matadouro de Campanhã, um projeto em co-autoria do escritório portuense OODA com o japonês Kengo Kuma, é “um exemplo de resistência, é um projeto muito portuense”, caracteriza o arquiteto Diogo Brito, um dos fundadores do escritório do Porto, em entrevista ao Porto Canal.

 
 
 
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Prometido inicialmente para 2023, o Matadouro de Campanhã só deve estar concluído em 2025, para abrir portas em 2026, de acordo com as mais recentes datas, divulgadas em maio deste ano.

A linha do tempo no projeto de reconversão leva-nos a abril de 2016, com a apresentação na Trienal de Artes, Design e Arquitetura, em Milão. Nesse mesmo mês o projeto era dado a conhecer na cidade do Porto e, espera-se, que dez anos depois o Matadouro de Campanhã, rebatizado M-ODU, passe a ser um destino urbano. Pelo caminho o impasse do Tribunal de Contas, a pandemia de Covid-19, bem como a guerra na Ucrânia foram pedras no sapato que levaram a caminhada a demorar mais tempo que o previsto.

Diogo Brito destaca o papel de vários intervenientes, sem os quais a reconversão do Matadouro poderia ter ficado pelo caminho. Desde a “coragem e ambição do próprio promotor de levar até ao fim e de aguentar todas estas vicissitudes. A tenacidade e a resistência da Câmara Municipal que se manteve sempre ativa com muitas alterações do ponto de vista orgânico, mas sempre mantendo a vontade. Em especial do próprio presidente e de toda a tutela que lutou pelo projeto, até em Tribunal de Contas”.

O arquiteto aponta que a reconversão é um projeto “de grande vontade, de não desistir e no final não vai ser exatamente o mesmo, mas nunca nos demitimos de tentar fazer o melhor possível”, afirma em entrevista ao Porto Canal.

As alterações

Com o passar dos anos houve alterações àquela que era a proposta inicial para aquilo que poderia ser o Matadouro, desde a dimensão da cobertura à demolição da esquadra da polícia.

Em setembro de 2023, a Câmara do Porto esclarecia que a área de proteção à VCI obrigava a um “afastamento obrigatório de 10 metros”, da cobertura daquela via, refere o arquiteto Diogo Brito, obrigando ainda a diminuir a dimensão da estrutura, algo que aconteceu também devido ao aumento do custo de materiais.

o edifício, onde agora está a 4ª Esquadra da PSP, vai ser demolido, de acordo com as alterações que o Porto Canal avançou nessa data. A PSP irá migrar para um outro edifício do Matadouro, de maior dimensão, também à entrada do complexo, mas permitindo abrir os acessos ao novo M-ODU com a criação de uma praça.

Também em setembro, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, revelava, em Assembleia Municipal, uma outra alteração ao projeto inicial: a construção de uma cave logística similar à do Mercado do Bolhão.

Também em setembro, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, revelava, em Assembleia Municipal, uma outra alteração ao projeto inicial: a construção de uma cave logística similar à do Mercado do Bolhão.

O tribunal de contas

Em maio de 2018 a reconversão era adjudicada à Mota-Engil, sendo que em fevereiro de 2019 o Tribunal de Contas chumbava o projeto, com a recusa do visto prévio ao contrato para a obra.

Nesse mesmo mês, o chefe do executivo da Câmara do Porto anunciava o recurso da decisão e, mais de um ano depois, o Tribunal de Contas dava luz verde à reconversão do antigo Matadouro de Campanhã. A data da decisão era 24 de abril de 2020, que transitou em julgado em junho.

Quando se conheceu a decisão do tribunal, o gabinete da Câmara do Porto escrevia que “durante mais de um ano, o Município esperou pelo acórdão que vem agora dar razão, em toda a linha, ao município, que sempre argumentou que o que estava em causa não era uma parceria público-privada, mas ainda que fosse, as regras das mesmas não se aplicam às câmaras municipais, além de que, mesmo que se quisesse considerar tal, esta seria uma parceria virtuosa”, numa informação publicada, à data, no jornal ‘Público’.

Estava desfeito o impasse para o arranque da obra, um mês depois de ter sido decretado em Portugal o estado de emergência devido ao número crescente de casos de Covid-19 e que viria a fazer parar o país.

Já em fevereiro de 2022, a invasão russa à Ucrânia veio acentuar o problema que se começava a viver com o aumento do custo dos materiais, levando o custo do aço e do alumínio a máximos históricos.

O novo Matadouro de Campanhã

O projeto de reconversão do promotor imobiliário Emerge, do grupo Mota-Engil, consiste num conjunto de edifícios para acolher empresas, mas também reservas de arte, museus, auditórios, restauração e projetos de coesão social. Dos cerca de 26 mil metros quadrados, a reconversão prevê a utilização de cerca de 20.500 metros quadrados. Destes, 12.500 metros destinam-se a espaço empresarial, a ser explorados pela Mota-Engil, e o restante a espaços a serem explorados pelo município.

“Da área total, 60% será para negócios e vamos reservar 40% para nós. O que queremos fazer ali? Em primeiro lugar, arte pública, a Galeria Municipal”, explicava Rui Moreira, em junho de 2022.

O investimento de mais de 40 milhões de euros será integralmente assegurado pela Mota-Engil e no final dos 30 anos da concessão, o equipamento regressa à esfera municipal.

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