Na Praça do Marquês jogar à sueca é um trunfo à passagem do tempo

Na Praça do Marquês jogar à sueca é um trunfo à passagem do tempo
Porto Canal
| Porto
Catarina Cunha

Há décadas que a Praça do Marquês, no Porto, fica repleta por dezenas de idosos que se reúnem todas as tardes, espontaneamente, para jogar à sueca. Alguns são amigos, outros apenas conhecidos, mas todos eles fazem do barulho de cartas o seu trunfo para combater a solidão que lhes acarreta.

 
 
 
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Nas quatro mesas de pedra dispostas na Praça do Marquês, sombreadas por árvores de grande porte, joga-se à sueca e nunca a dinheiro. Não há hora para começar, nem terminar, joga-se até à vontade ditar. O baralho de cartas aparece à boleia de um jogador e os resultados apontam-se numa “caixa de cartão encontrada no lixo”. A troca de trunfos há décadas fez com que aqueles meros desconhecidos, de vários pontos da cidade do Porto, se tornassem parceiros.

“Todos os dias, a partir das 13h30 já estão aqui a ocupar as mesas. Entre as 18h30-19h00 vai tudo embora. Se chover, não vem ninguém”, conta ao Porto Canal José Fangueiro, um dos frequentadores do espaço.

Há quem prefira apenas assistir, em pé e à cabeceira, rodando entre as mesas quando termina cada jogo. É o caso de João Lopes, de 69 anos, que há mais de 40 anos faz daquele espaço a sua rotina diária.

“Venho todos os dias porque moro aqui perto. Isto começou por ser um grupo de idosos que se reunia a jogar, depois juntaram-se mais pessoas, como profissionais. Antigamente, jogava-se à sueca em qualquer lado, num banco por exemplo, mais tarde, é que a Câmara colocou as mesas, algo que é mais agradável”, explica.

Quem vê este ‘espetáculo’ ao vivo, testemunha que mesmo com as contas à merceeiro, os participantes (que são sempre homens) entendem-se e raramente os ânimos se exaltam.

“Há algumas discussões, mas é tudo pacífico”, aponta Casemiro Sousa, outro assistente que vem de propósito de Vila Nova de Gaia para “passear” e “encontrar-se com os amigos” das cartas.

“Dá gosto vê-los a jogar”

Há uma mesa de pedra que se destaca das demais. “Na dos campeões estão os jogadores profissionais. Dá gosto vê-los a jogar porque jogam muito bem. As outras são os amadores”, comenta novamente João Lopes, enquanto tira o baralho de cartas do interior do seu casaco de pele. “Eu só fico a ver, mas trago sempre um ‘maço’ de cartas para o caso de alguém não ter”, justifica.

Naquele espaço, só se senta quem é sócio. Dizem os apreciadores que são para lá de dez, sendo que cada um contribui com um euro mensal para comprar os baralhos de cartas, que se vão gastando com o uso frequente. Quando sobra dinheiro, organizam um convívio no final do ano.

“[As casas de banho] fazem muita falta”

A biblioteca Pedro Ivo, situada na Praça do Marquês, é um espaço desejado pelos jogadores de cartas para se reunirem em dias de chuva e frio. “Quando está a chover, o Marquês não é igual. Sinto-me mal quando chego aqui e não vejo ninguém. É pena não podermos ir para a biblioteca”, lamenta.

Mas, não é só essa questão que incomoda a comunidade. Aquele grupo de idosos, há algum tempo que reclama o encerramento das casas de banho públicas da praça. “Fazem muita falta, sobretudo para as pessoas mais idosas. Há muitas pessoas que não têm dinheiro para um café e têm que se deslocar a um estabelecimento e pagar 0.90 cêntimos para ir à casa de banho. É de lamentar”, afirma Laureano Aguiar, enquanto espera pela sua vez de jogar às cartas.

Contactada pelo Porto Canal sobre a reabertura da casa de banho pública e o reaproveitamento da biblioteca Pedro Ivo, a Câmara do Porto não quis tecer comentários.

Quem ocupa as suas tardes na Praça do Marquês, sobretudo, nos dias em que os raios de sol irradiam, acreditam que o legado da comunidade irá resistir à passagem do tempo. “Isto, é o melhor passatempo que se pode ter para o resto da vida”.

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