Começa a ganhar forma a “moldura fina da Ponte da Arrábida”
João Nogueira
É inevitável que uma panorâmica de uma cidade não ganhe ruído quando é introduzida uma ponte. Mas no caso da nova travessia entre o Porto e Gaia, que já começa a aparecer nas margens, o objetivo foi reduzir o impacto e deixá-la “quase ausente”. “Não podendo ser invisível, uma moldura fina à Ponte da Arrábida”, descreveu o arquiteto José Carlos Oliveira, que esteve à conversa com o Porto Canal e deu detalhes sobre o desenho e o que vão ganhar as margens durienses.
Em cima da mesa nunca esteve o objetivo de superar as outras pontes que já existem (nomeadamente a Ponte da Arrábida) em termos de importância. A Ponte Ferreirinha vai ser a sétima a unir as margens do Porto e de Vila Nova de Gaia. Mas é a primeira a ser exclusiva para o metro e modos de transporte suaves.
Foto: Metro do Porto
Junto à Faculdade de Arquitetura, no Porto, ou do Arrábida Shopping, em Gaia, já é possível ver as bases dos pilares que vão sustentar o tabuleiro onde atravessará a Linha Rubi, bicicletas e peões.
Um objeto “discreto”, mas imponente
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A principal preocupação do consórcio que desenhou a travessia foi garantir que esta se integrasse harmoniosamente no cenário urbano, sem competir visualmente com outras estruturas emblemáticas, como a Ponte da Arrábida.
"Sendo um vale encaixado e tendo essas características de estar tão ocupado, a ponte tinha que se tentar tornar invisível", explicou José Carlos Oliveira. Como não é possível, o arquiteto descreveu-a como um ícone "esbelto", como uma "moldura fina" que a torna quase ausente.
Desafios estruturais e integração no ambiente
Integrar a ponte nas margens do Porto e Gaia obrigou a uma atenção redobrada. Por serem áreas que já estão “muito ocupadas”, o consórcio responsável pelo desenho da futura estrutura procurou esconder os apoios por detrás das construções existentes.
Foto: NOARQ
Recorde-se que os pilares foram, desde o início, alvo de depreciações e dúvidas de vários moradores que questionavam se “iam perder as vistas sobre o Douro”. Chegaram mesmo a criar uma associação para se defenderem.
De toda a forma, o impacto na imagem da cidade teve de dar as mãos às exigências estruturais que mantêm a ponte firme: "Tem que ter potência, tem que ter força, mas, ao mesmo tempo, tem que ter o mínimo de elementos", afirmou o arquiteto, referindo-se ao desafio de manter a estrutura leve mas resistente, capaz de suportar tanto o tráfego como as forças do vento, características da região.
E a procura pela simplicidade foi colmatada por outro lado, por exemplo, com o projeto a dividir os pilares da ponte em duas pernas inclinadas que se abrem e dão maior estabilidade à travessia.
Os principais apoios da ponte serão situados, do lado do Porto, no antigo terreno da gasolineira da Repsol, já desmantelada; e do lado de Gaia, junto aos edifícios de armazéns no final da Rua do Cavaco.
Margens ganham perfis novos
As ambições do projeto vão mais além do que concretizar uma ligação entre o Porto e Gaia. À boleia da construção dos pilares da ponte, as margens de cada uma das cidades vai ser reorganizada e transformada.
Do lado do Porto, será criada uma praça na Rua do Ouro com acesso direto à Rua do Bicalho, incluindo um elevador e uma nova escadaria.
Foto: NOARQ
Ali será alocado um estacionamento para bicicletas e serão construídos dois edifícios. Um deles destinado a “apoio e gestão" do metro, e o outro, que ficará do lado poente, confronta com o antigo armazém frigorífico do bacalhau e terá fins comerciais.
A Metro do Porto adjudicou, entretanto, a Álvaro Siza um projeto de espaço público para a redefinição dos espaços verdes na envolvente das faculdades da Universidade do Porto ali alocadas.
Já do lado de Gaia, a proposta é requalificar a área envolvente, criando espaços verdes e passeios largos que irão funcionar como mirantes para a vista sobre o rio Douro e a cidade do Porto.
Foto: NOARQ
"Renovaremos todo aquele espaço, criando um parque acessível e com espaços verdes ao lado, permitindo uma melhor integração com a paisagem", explicou o arquiteto do NOARQ.
Ainda é incerto se a transformação dos baldios em espaços verdes vão acontecer até à cota do Arrábida Shopping, uma vez que os terrenos em questão não pertencem à Metro do Porto.
Construção por cabos tensionados
A obra seguirá em simultâneo de cada uma das margens para o centro do rio, utilizando cabos tensionados e avançando em etapas até que a união das duas partes da ponte seja concluída, informou José Carlos Oliveira.
Tal como a ponte que não tem quaisquer pilares no rio Douro, durante o processo de construção também houve o cuidado para evitar quaisquer estruturas na água ou a interromper as margens.
A Ponte Ferreirinha, em homenagem à D. Antónia Ferreirinha, estará a uma cota de 70 metros acima da linha de água, e terá um vão principal de cerca de 430 metros em betão. Vai conectar as futuras estações do Campo Alegre e da Arrábida.
Com um valor global superior a 450 milhões de euros, a futura linha Rubi é o maior projeto de sempre de uma infraestrutura no Porto e apenas tem paralelo nas primeiras linhas da Metro, inauguradas em 2002.