André Villas-Boas:“Por um futebol justo e transparente”
Porto Canal
“O futebol em Portugal tem sido marcado por escândalos que frequentemente culminam em nada ou, no limite, em decisões judiciais sem consequências disciplinares efetivas, gerando uma sensação de desigualdade no tratamento dado aos clubes”, por isso “o FC Porto está a estudar em detalhe o despacho de acusação proferido pelo DCIAP no mediático Caso dos Emails e tem intenção de agir proativamente relativamente à acusação, incluindo a contestação de arquivamentos que considera infundados”.
Na edição de outubro da revista Dragões, já disponível na versão digital, André Villas-Boas considera “inconcebível aceitar que determinadas figuras próximas das cúpulas dos Clubes operem sem o conhecimento das lideranças” e anuncia ter comunicado essas “preocupações e intenções à Liga, à Federação e, devido à gravidade que transcende o futebol e a sua indústria como um todo, à Presidência da República, ao Governo e à Procuradoria Geral da República”.
“Somente com instituições vigilantes e mecanismos eficazes de promoção da justiça será possível restaurar a confiança dos adeptos e dos agentes desportivos”, escreve o presidente na página que assina e ao longo da qual reforça a importância das “reformas internas para promover a transparência e a responsabilidade: ações concretas que visaram combater a fraude na venda de bilhetes e auditorias forenses para identificar e responsabilizar, nos locais adequados, atos e comportamentos de quem prejudicou ou se serviu indevidamente do Clube”.
“Atuámos contra quem atentou contra a liberdade de sócios; instituímos canais de denúncia e lançámos o Portal da Transparência, para que, a todo o tempo, os sócios possam estar informados das decisões estratégicas, da forma como são cuidados os seus ativos - atletas, património, ativos financeiros - e como estamos a construir o futuro do Clube”, explica o dirigente certo de que “algumas questões urgentes merecem resposta tempestiva”.
“Alguém foi sancionado pelos tribunais com penas dissuasivas que desincentivem a repetição destes comportamentos? Por que é que alguns comportamentos muito graves, que comprometem a verdade desportiva e são comprovados judicialmente, não têm reflexo condizente nos órgãos de justiça e disciplina desportiva?” são as perguntas colocadas por quem se recusa a “imaginar um país que, anos à frente, ainda se depare com casos de corrupção ativa e passiva em tribunais civis e criminais sem a devida repercussão nos órgãos de justiça desportiva; ou o teatro de sombras que transforma colaboradores diretos em meros conhecidos que, por simpatia, corrompem para beneficiar os amigos sem censura ou reprovação; ou entidades fiscalizadoras e de regulação ignorem ou tratem superficialmente esquemas financeiros suspeitos ou não questionem a origem dos capitais envolvidos”.
“Fazer justiça, punir os prevaricadores e restaurar a verdade desportiva significa ser exigente com todo o sistema de justiça e disciplinar. E sermos consequentes. Nos locais certos - nos tribunais e nas entidades responsáveis pela aplicação e cumprimento da lei - conduzida por magistrados e órgãos de justiça e disciplinares competentes, com efetividade, com impacto real nos quadros competitivos e com imparcialidade absoluta”, sublinha o líder máximo de uma instituição que tem mantido “comunicações com a Liga e com o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, com o objetivo de melhorar a credibilidade das competições desportivas” e que notou “celeridade incomum” na decisão de interditar o Estádio do Dragão. “Estamos esperançosos de que seja o reflexo da mudança de paradigma que necessitamos no futebol português”, conclui André Villas-Boas.