Casa de Almeida Garrett no Porto está à venda por 3,8 milhões de euros - e pode vir a ser hotel
Ana Francisca Gomes
A casa onde nasceu Almeida Garrett, no Centro Histórico do Porto, foi colocada à venda por 3,8 milhões de euros. Segundo a imobiliária, o destino do lote, que inclui dois edifícios, não está fechado: tanto poderá ser adaptado para habitação, como para hotelaria. Em 2019, a Câmara do Porto tentou adquirir o imóvel para lá instalar um pólo do Museu do Liberalismo.
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No número 37 da Rua Doutor Barbosa de Castro, a poucos metros da antiga Cadeia da Relação, um medalhão oval na fachada de um edifício setecentista revela que este não é um mero devoluto. “Casa onde nasceu a 4 de Fevereiro de 1799 João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (...)”, lê-se entre os azulejos verdes.
Já desde abril de 2019, altura em que simultaneamente a autarquia portuense tentou adquirir o imóvel e um incêndio deflagrou no espaço, que se desconheciam planos para tentar recuperar a casa onde o escritor nasceu e morou durante cinco anos. Mas o futuro já não permanece assim tão incerto.
Mais de cinco anos depois, o edifício foi colocado à venda há poucas semanas pela imobiliária portuense Metro3. O lote, à venda por 3,8 milhões de euros, tem 1616 metros quadrados de área útil e inclui dois edifícios.
Segundo a imobiliária, o lote já tem até projetos aprovados. “Tem PIP [Pedido de Informação Prévia] aprovado para edifício de apartamentos e comércio, com 13 frações, contando ainda com projeto de arquitetura para Hotel de Charme de 29 quartos e 1 restaurante, o que permite uma diversificação de abordagem para investimento”, pode ler-se na sua página online.
O Porto Canal tentou obter mais informações sobre projetos aprovados para aquele lote junto do Gabinete de Comunicação da Câmara do Porto, mas não obteve resposta em tempo útil.
Os edifícios foram adquiridos em 2017 e 2018 pela sociedade anónima Midfield - Imobiliária e Serviços, com sede na Avenida da Boavista, detida pelos mesmos membros do conselho de administração da Teak Capital, um fundo de investimento da família Moreira da Silva.
Autarquia quis transformar casa em museu
Em março de 2019, a Câmara do Porto aprovou por unanimidade uma recomendação da CDU para tentar adquirir a casa e ali instalar um pólo do Museu do Liberalismo, a propósito dos 200 anos da Revolução Liberal. A proposta - que passava por adquirir o edifício e outros dois contíguos - acabaria por não sair do papel. Apesar dos esforços da autarquia, o negócio não foi avante, já que o valor pedido pelo proprietário (4 milhões de euros) foi superior à avaliação dos três imóveis (1,5 milhões).
Contactada em julho pelo Porto Canal, a autarquia portuense referia apenas que nada mudou desde o tempo em que as negociações com o proprietário acabaram por não chegar a bom porto.
Para o historiador Joel Cleto, o melhor destino para o edifício seria “um espaço que recordasse a figura de Almeida Garrett, mas também esse momento crucial da história do Porto e do país, que é o cerco do Porto”. À conversa com o Porto Canal em julho, o historiador lembrava que, “curiosamente, nós não temos na cidade nenhum espaço museológico, onde, de um modo aprofundado, seja explicado o que foram esses 13 meses em que a cidade suporta um cerco terrível”.
Para quem olha para o prédio, que tem também uma fachada virada para o Passeio das Virtudes, sobram agora as marcas do incêndio que o devastou em 2019 e que deixou dois bombeiros feridos, não afetando nenhum dos prédios vizinhos. Fogo esse que deflagrou na mesma semana que a autarquia liderada por Rui Moreira fez a proposta de compra aos proprietários, noticiava à data o jornal Público.
“Salvou-se a sua fachada, salvou-se essa memória e por isso acho que estamos sempre em tempo de reabilitar este imóvel como memória importante para a cidade”, remata Joel Cleto.