Queda da Farfetch não compromete construção da “Nova Califórnia” em Matosinhos
Fábio Lopes
A Castro Group, empresa responsável pela criação do Fuse Valley, em Matosinhos, num investimento conjunto de 200 milhões de euros com a Farfetch, avança que o projeto está em fase final do processo de licenciamento do loteamento, aguardando aprovação “a qualquer momento”.
Ao Porto Canal, o grupo imobiliário garante que “continua a trabalhar ativamente no projeto” e que, apesar dos “desafios” enfrentados, “permanece firme e comprometido com os seus princípios fundamentais”, no que concerne ao centro de inovação tecnológica, cuja ambição é a de fazer de Matosinhos a “nova Califórnia” portuguesa, afastando os pontos de interrogação em torno do megaempreendimento.
Ver esta publicação no Instagram
Assim, nem as profundas dificuldades em que está mergulhada a Farfetch fazem cair o megalómano investimento, no qual o primeiro unicórnio com ADN português, teria papel decisivo.
A empresa fundada por José Neves iria ocupar sete dos 24 edifícios do Fuse Valley, contudo a crise que se abateu sobre a retalhista de e-commerce de artigos de luxo fizeram uma nuvem de incerteza pairar sobre o empreendimento tecnológico.
Questionada sobre a presença da Farfetch no centro de inovação, que irá nascer em Leça do Balio, o Castro Group não dá pormenores, mas reitera o seu compromisso com o desenvolvimento deste projeto, que considera “de grande atratividade para Matosinhos, Grande Porto e toda a região norte do país”.
“Assim que obtivermos a aprovação do loteamento, continuaremos a avançar com a mesma dedicação e empenho, seja no modelo de negócio atual ou em outro que melhor responda aos desafios presentes”, sublinha o grupo imobiliário, que frisa a importância estratégica do projeto.
Matosinhos, a nova Califórnia?
“Idealizado há cinco anos, o FUSE VALLEY continua relevante e alinhado com as necessidades atuais do mercado. Num contexto onde a inovação, sustentabilidade e flexibilidade são essenciais, o projeto destaca-se como uma proposta contemporânea e necessária”, remata o Castro Group.
O empreendimento pretende criar 12 mil postos de trabalho qualificado no setor terciário e das tecnologias de informação, reforçando as perspetivas de desenvolvimento económico do concelho, reunindo um espaço de escritórios revolucionário.
O projeto inclui ainda escritórios para outras empresas, uma unidade hoteleira com 75 quartos e 42 apartamentos, ocupando uma área de 12 mil metros quadrados junto à EN14 (Via Norte); 5 mil metros quadrados de espaços para comércio e serviços como restaurantes, um ginásio e um spa, e, ainda um anfiteatro ao ar livre disponível para receber mostras de arte, palestras e workshops.
Recorde-se que em março, à margem do evento imobiliário internacional MIPIM, Paulo Castro, diretor executivo da construtora, indicou 2027 como a data prevista para a conclusão da primeira fase, caso a obra tivesse início este ano. Contudo, o projeto ainda não saiu do papel.
A derrocada da Farfetch
2023 foi sinónimo de turbulência financeira para a Farfetch. A gigante tecnológica acumulou três trimestres de prejuízos consecutivos e entre abril e junho do ano transato registou perdas de 258 milhões de euros.
Em novembro, depois de adiar a apresentação de contas, a empresa perdeu, em menos de duas horas, 382 milhões em capitalização bolsista, ou seja, metade do valor em bolsa.
A espiral negativa foi consumada com o acordo firmado com os sul-coreanos da Coupang, que retirou a empresa de Wall Street e com a demissão de todos os membros da administração, em dezembro de 2023. A empresa vai despedir até 30% da sua força de trabalho, levando à saída de até 2.000 pessoas.