Semana do bem-estar digital arranca segunda-feira e fecha com conferência internacional no Porto
Porto Canal / Agências
Uma conferência internacional sobre a prevenção e combate à violência sexual ‘online’ contra crianças e jovens e o uso excessivo e problemático de ecrãs será o ponto alto da Semana do Bem-Estar Digital, que arranca no domingo.
Organizada no âmbito do projeto Agarrados à Net, que promove o bem-estar digital de crianças, jovens e adultos, prevenindo e combatendo o ‘bullying’ e o ‘cyberbullying’, assim como a violência sexual com base em imagens e os impactos negativos das redes sociais na imagem corporal, a Semana do Bem-Estar Digital (https://www.bemestardigital.pt/) visa sensibilizar para o tema, colocando-o na agenda pública nacional.
A 2.ªedição decorre entre 28 de abril e 4 de maio, a nível mundial.
Em Portugal, estão previstas iniciativas dinamizadas pelas entidades aderentes, como a divulgação de recursos sobre como famílias, escolas e comunidades podem melhorar o bem-estar digital, um ‘site’ dedicado ao tema e uma conferência internacional, na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto.
Na conferência, que decorre a 3 e 4 de maio, serão debatidos temas como o “Aliciamento sexual – ‘sexting’ e extorsão sexual ‘online’ de crianças e jovens”, “Partilha não consentida de conteúdos íntimos: violência sexual baseada em imagens”, “Inteligência Artificial e Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Jovens”, “Como o Google e o YouTube combatem o abuso sexual de crianças ‘online’” e “Os impactos dos ecrãs no desenvolvimento da criança e do adolescente”, entre outros.
“No ano passado sentimos que havia necessidade de criar um evento centralizador de toda essa informação, de forma anual, e surgiu a ideia de criarmos a semana do bem-estar digital, para mobilizar a sociedade”, explicou à Lusa Tito Morais, fundador do MiudosSegurosNa.Net, acrescentando que a intenção é “envolver o maior número de organizações possível”.
Como exemplo da promoção do envolvimento das escolas, apontou a criação do Selo Escola pelo Bem-Estar Digital, atribuído a estabelecimentos de ensino que promovam iniciativas sobre estes temas.
“Incentivamos muito as escolas, porque (…) chegam a um público maior em termos do número de crianças, mas qualquer pessoa, família ou indivíduo, pode comprometer-se a melhorar o seu bem-estar digital durante esta semana, ou até durante o mês”, explicou Cristiane Miranda, criadora do projeto Teen on Top e também envolvida na organização da Semana do Bem-Estar Digital.
Disse que ainda há uma grande “falta de consciência dos pais” quanto à dimensão dos riscos e ao quão prejudicial pode ser o excesso do uso dos ecrãs e das tecnologias, exemplificando com o tipo de conteúdos a que crianças e jovens hoje têm acesso, com facilidade, na internet, sublinhando que os impactos “são físicos e mentais”.
No dia anterior ao início da conferência internacional, a 02 de maio, serão promovidos dois ‘workshops’ especializados com o tema “Prevenção e Combate à Violência Sexual Online Contra Crianças e Jovens no Metaverso”. A participação nestas ações é gratuita, mas para participar na conferência paga-se um “valor simbólico” que rondará os 15 euros. Para professores, a formação é certificada como ação de curta duração.
Um relatório publicado em fevereiro de 2024 pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova apresentou os resultados de um estudo que fez parte do projeto europeu ySKILLS, realizado entre 2021 a 2023, que abrangeu mais de 10 mil participantes entre os 11 e 16 anos, que concluiu que quatro em cinco adolescentes portugueses já se depararam com conteúdos ‘online’ de ódio ou prejudiciais à saúde.
Na conferência internacional vai também ser discutida a ‘parentalidade digital’, dando ferramentas aos pais para puderem acompanhar os filhos e protegê-los dos riscos à espreita na internet. Nesta área, vai estar na conferência Elisabeth Milovidov, considerada uma das maiores especialistas mundiais nesta área.
“Fizemos isto precisamente ao sábado, a pensar nos pais, para não haver desculpa”, disse à Lusa Cristiane Miranda, acrescentando: “Nós andamos a desenvolver o tema pelas escolas do país, fazemos sempre uma sessão com os pais e vemos a dificuldade que as escolas têm em levá-los a uma sessão destas. Mesmo à distância e com diversos horários”.
“Vamos a escolas com cerca de 2.000 alunos e numa sessão não conseguimos ter sequer 20 pais”, insistiu, sublinhando a necessidade de maior interesse e disponibilidade dos pais para participarem: “O problema não é pais não saberem. É os pais não quererem saber”.