“É um dos melhores segredos da cidade do Porto”. Palacete Pinto Leite, um tesouro escondido na Invicta
Maria Leonor Coelho
É uma herança do século XIX, está numa das zonas mais privilegiadas da Invicta, mas continua a ser um dos tesouros escondidos da cidade. A Casa do Campo Pequeno, como inicialmente era conhecida, foi construída em 1860 e alberga, desde então, a história de uma das famílias mais influentes do Porto – os Pinto Leite.
Joaquim Pinto Leite foi o responsável pelo ‘nascimento’ deste imponente edifício. Em 1860, mandou construir um palacete burguês de estilo neopalladiano, com fortes influências britânicas, para morar com a família. O edifício esteve nas mãos dos Pinto Leite durante mais de um século, mas a manutenção começou a ser impraticável, o que obrigou à venda do imóvel.
Em 1966, a Câmara Municipal adquiriu o edifício com o intuito de criar o Museu da Cidade do Porto. Contudo, durante quase uma década, o Palacete não teve qualquer ocupação.
Foi em 1975 que as portas do Palacete Pinto Leite, como agora é apelidado, se abriram para acolher o Conservatório de Música do Porto que, até então, estava sediado num edifício que não reunia as condições necessárias para receber os ensaios.
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Mais tarde, em 2008, aquando da saída do Conservatório, o edifício ficou devoluto, o que levou a Câmara a leiloá-lo em hasta pública, em 2016. O Palacete foi então comprado pela dupla de colecionadores António Oliveira e António Moutinho Cardoso, que tinha o intuito de criar um “ex-libris” cultural de portas abertas à cidade.
Alguns anos mais tarde e agora a solo, António Moutinho Cardoso tem o orgulho de poder dizer que “passaram pelo Palacete uma série de músicos que vieram a ter grande relevância na cidade do Porto, no país e no mundo”, confessa ao Porto Canal.
Atualmente, as paredes do Palacete contam a história de uma coleção internacional com peças de mais de 140 artistas, oriundos dos quatro cantos do mundo.
Apesar disso, a herança do Conservatório não desvaneceu e a música continua a ter um lugar de destaque no Palacete. “Têm sido feitas várias atividades, tivemos a Orquestra António Fragoso a ensaiar, durante a pandemia, demos ainda um concerto em homenagem às vítimas da pandemia e organizamos também uma noite de fado em homenagem ao portuense Napoleão Amorim”, refere o proprietário.
A casa instalada na Rua da Maternidade “vai tendo uma atividade discreta, mas não está, ao contrário do que se possa pensar, ao abandono”. Ultimamente tem sido uma verdadeira “residência para artistas” ao acolher espetáculos musicais, filmes, videoclipes e várias exposições de jovens artistas portuenses.
Durante o mês de fevereiro, os finalistas de Multimédia do Porto foram convidados a apresentar a exposição Micose, no Palacete Pinto Leite. Estas oportunidades fazem com que os jovens artistas se sintam “otimistas em relação à forma como o Porto está a olhar para eles e lhes está a dar oportunidades”, confessa uma das alunas.
Questionado pelo Porto Canal sobre o futuro do Palacete, António Moutinho Cardoso prometeu continuar a abraçar novas atividades e a abrir portas a artistas. “O facto de ser das raras casas que não está à face da rua dá-lhe um certo secretismo, há muita gente que ainda a desconhece, mas é um dos melhores segredos da cidade do Porto e eu quero conservá-la”, remata.