Murgido, a aldeia ‘vizinha’ de Amarante que sobrevive com cerca de 200 habitantes

Murgido, a aldeia ‘vizinha’ de Amarante que sobrevive com cerca de 200 habitantes
Porto Canal
| Norte
Catarina Cunha

A pouco mais de uma hora da cidade do Porto encontra-se a aldeia de Murgido, na freguesia de Candemil, pertencente ao concelho de Amarante. Longe da confusão da cidade, e no alto da Serra do Marão, a aldeia resiste à passagem do tempo com cerca de 200 habitantes, segundo os relatos dos populares.

Uma viagem de 1h15 minutos, a partir do Porto, transporta-nos para uma pequena aldeia, a mais alta do concelho de Amarante: Murgido. De curva e contracurva, o silêncio daquele dia solarengo só é abafado pela água a correr no rio Marão.

Contam-se pelos dedos da mão, os carros que percorrem aquele asfalto em direção ao destino. É sinónimo de que os tempos de azáfama ficaram lá atrás, no passado, tal como em muitas outras aldeias de Portugal.

À entrada na aldeia, somos recebidos pelos guizos do gado - não fosse o local onde existem duas explorações de gado - e pela gentileza dos habitantes que não negam um ‘bom dia’ e abrem a porta das suas casas. Hoje, em Murgido, aldeia conhecida pelos invernos rigorosos, vivem cerca de 200 pessoas, sendo que apenas 20 são crianças.

“Toda a gente que casa, vai emigrar, à procura de dinheiro”, conta Irene Mendes, que vive na aldeia há mais de 50 anos. O regresso dos ‘mais novos’ a casa faz-se só em agosto, altura da festa da aldeia. Já os mais velhos, tendem a ficar pelo gosto à terra.

Não há escola, multibanco, nem farmácia, apenas um café e uma mercearia. O pão e o peixe tocam à porta duas vezes por semana. Os bens essenciais são lavrados no campo e os restantes produtos são adquiridos no Mercado Municipal de Amarante, à quarta-feira, ou ao sábado.

 

 
 
 
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A pouca oferta não é motivo para irem de malas e bagagens para a cidade mais próxima. “Na cidade tem que se comprar tudo. É da água ao sal”, salienta Maria de Lourdes Fernandes.

Quanto aos transportes públicos, só existem duas carreiras, uma quando o galo toca, por volta das 7 horas da manhã, e outra ao final do dia.

Na aldeia onde todos se tratam pelo nome, os mais velhos passam o tempo sentados na paragem do autocarro a recordar os tempos de infância, “duros” e “sem fartura”, onde havia pouco espaço para a brincadeira. À época, vivia-se da agricultura, de algum trabalho nas minas existentes na serra, ou em serviços na floresta.

“Nunca passamos fome, porque éramos fartos da terra. Os meus pais cultivavam feijão, milho e batata, mas não havia mimos como há agora”, relembra Maria de Lourdes que teve sete irmãos. Hoje, a realidade não difere. Os mais novos ocupam-se a lavrar a terra e a cozer sapatos à mão. Quem ‘sonha’ mais alto, tem que o fazer fora da sua aldeia.

“Ninguém consegue viver só da agricultura”, comenta José Fonte, que regressou há três anos da Suíça, onde esteve emigrado mais de 20 anos.

 Porto Canal

Murgido tem cerca de 200 habitantes

No cimo de Murgido, com uma paisagem privilegiada, encontramos Fernanda Fernandes a cozer sapatos na soleira da sua residência. Esses, chegam-lhes diariamente de uma fábrica em Felgueiras. Demora cerca de três horas por cada saco que em média tem 25 pares. Feitas as contas, são mais 13 euros que ganha.

“Dinheiro dá pouco, mas vai-se ganhando algum, não temos outras coisas”, lamenta Fernanda, sem deixar o seu ofício.

A falta de emprego não é motivo para Fernanda, Maria de Lurdes, ou Irene deixarem a morada que sempre conheceram. Irene, que teve o marido emigrado na Suíça, não está descontente em sempre ter ficado no seu pequeno cantinho na serra. “Agora, é tão complicado pagar renda de casa, acho que não fiz uma má escolha, ao menos vivo na mesma terra, onde nasci, cresci e convivi com os meus amigos”, diz.

Fernanda, cujo marido é camionista, concorda com a vizinha. “Não trocava a minha terra por nenhuma, não temos as coisas como se tivéssemos na cidade, mas temos ar puro, vivemos bem, as pessoas são todas amigas uma das outras, na cidade às vezes nem se conhecem”, afirma a moradora.

Qual será o futuro da aldeia de Murgido?

Olhando as estatísticas, o prognóstico não é abonatório para Murgido, ao passo do que ocorreu em outras aldeias do país. Fernanda Fernandes revela que gostava que o seu cantinho não “ficasse desertificado como há muitos” e que os habitantes mais novos não deixassem murchar a alma da aldeia.

Além da tranquilidade da vida rural, contrária ao desassossego característico dos grandes centros urbanos, há quem saliente a segurança de Murgido. “Aqui, posso andar à vontade, posso deixar as portas abertas que ninguém vem a minha casa, se fosse para a cidade não podia fazer isso”, reforça Fernanda, quando remata o último sapato antes de almoçar. Para a residente, esses são mais do que motivos para visitar a aldeia. “Para passar férias, não há melhor”, conclui.

À saída de Murgido, cruzámo-nos com a padeira de serviço, que sabe de cor o pedido de cada morador, e dizemos ‘adeus’ a quem estava sentado na paragem de autocarro à espera do almoço.

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