Pintura “escondida” em loja do Porto devolvida aos portuenses

Pintura “escondida” em loja do Porto devolvida aos portuenses
Abel Salazar no Café Rialto junto ao seu mural
| Porto
Ana Francisca Gomes

O mural de cinco metros de largura “Síntese da História”, que Abel Salazar (1889 – 1946) pintou para o icónico Café Rialto, junto ao Rivoli, voltou a ver a luz do dia. Uma parede de pladur, colocada há dois anos no espaço que é atualmente ocupado por uma loja de ‘fast-fashion’, foi removida. A iniciativa partiu de dois cidadãos que entraram em contacto com o novo proprietário daquele que foi em tempos o primeiro arranha-céus do Porto.

Quem passeia pelo Centro Histórico do Porto, na zona da Praça D. João I, pode até nem reparar no edifício alto verde, mas os portuenses mais velhos lembrar-se-ão daquele que foi o primeiro arranha-céus do país e do porquê de ter ficado conhecido como ‘Edifício Rialto’. Um dos primeiros ‘habitantes’ desta estrutura foi o icónico Café Rialto. Com dois pisos ligados por uma imponente escadaria em mármore e um mural de cinco metros de largura pintado por Abel Salazar, era um local frequentado por poetas contestatários do Estado Novo.

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O espaço foi desenhado pelo arquiteto Artur Andrade, o mesmo do cinema Batalha. E se em 2022, o Batalha devolvia aos ‘olhos’ da cidade os frescos de Júlio Pomar que a tinta da censura da PIDE tentou esconder, a pintura de Abel Salazar vai também voltar a ver a luz do dia. Mas por trás do seu desaparecimento não está nenhuma histórica poética de resistência ao fascismo: a pintura foi escondida atrás de uma parede porque a loja que agora ocupa o espaço … precisava de instalar mais prateleiras para expor produtos.

A edição impressa do Público desta terça-feira dá a ‘boa-nova’ de que a pintura deixou de estar destapada. O diário informa que a vontade partiu de um cidadão portuense após ter tomado conhecimento da obra que se encontrava oculta pela estrutura de pladur. Renato Soeiro colocou na ordem do dia um tema que viria a contar com o apoio do escritor Mário Cláudio, candidato pelo Bloco de Esquerda à Câmara de Gaia, nas eleições de 2021.

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Numa visita ao local é possível constatar que os clientes se mantêm alheios à obra do médico e pintor portuense. As atenções de quem entrava eram divididas entre uma prateleira gigante com peluches coloridos e uma secção com produtos de beleza. Apenas um jovem, mais tarde, se deixou hipnotizar pelas cores escuras e procurou absorver todos os detalhes, possivelmente à procura de uma assinatura.

Em declarações ao Porto Canal, a responsável pelas lojas Miniso em Portugal adianta que no futuro pretendem melhorar a iluminação do mural e proceder à colocação de uma placa com identificação do autor e uma breve história da pintura, assegurando assim o seu correto enquadramento na loja. Segundo Sara Silva, quando abriram a loja nas atuais instalações tomaram a decisão de colocar a parede de pladur para proteger a obra já que necessitavam do espaço para estarem exibidos os seus produtos.

 
 
 
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Pisos superiores do edifício transformados em apartamentos turísticos

No encerrar de 2023, o grupo Endutex anunciou que vai transformar os pisos superiores do ‘Edifício Rialto’, junto ao Rivoli, em apartamentos turísticos. Uma pequena pesquisa pelo arquivo da cidade demonstra o impacto da construção desta estrutura nos anos 40. Com nove pisos, foi considerado o primeiro arranha-céus do país e, na cidade, ficou conhecido pelo “Arranha-céus da Praça D. João I”.

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O edifício foi vendido pela seguradora Ageas em 2020 à Endutex, dona da cadeira hoteleira Moov, que agora pretende manter o comércio presente no piso 0 e os serviços dos pisos 1 ao 3, convertendo os restantes pisos em apartamentos turísticos. A notícia foi avançada pelo Jornal de Negócios, que cita o administrador do grupo André Ferreira, que informa que serão 35 apartamentos T1 e T2 prontos em 2025.

Ao Porto Canal, Inês Rodas, engenheira-civil da Endutex, esclareceu à data que ainda estão a ajustar o projeto dos novos apartamentos turísticos com o atelier de arquitetura responsável. Os andares que vão ser transformados em apartamentos turísticos chegaram a ter a função de habitação, mas neste momento estavam alugados “a alguns serviços clínicos”. A alguns serviços instalados nesses andares foi dada a oportunidade de passarem para pisos inferiores do edifício, garante Inês Rodas, mas outros terão de sair devido ao fim do contrato.

Segundo a mesma fonte, o estado de conservação inviabilizou o arrendamento dos espaços superiores, factor que terá pesado na decisão de adaptar o espaço para o setor turístico.

 
 
 
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