Circunvalação no Porto. A história de uma estrada do século passado
Catarina Cunha
Inaugurada em 1896, no século XIX, a Estrada da Circunvalação no Porto liga Matosinhos à Ribeira, num total de 17 quilómetros.
No início do século, a via rodoviária servia como barreira alfandegária para a taxação de bens de consumo que chegavam à cidade, tendo funcionado nestes moldes ao longo de 47 anos.
Em 1995, com a construção da Via de Cintura Interna (VCI), a rodovia deixou de ser a principal via distribuidora de tráfego do Porto. Com o passar dos anos, a estrada não sofreu intervenções, tornando-se numa infraestrutura parada no tempo com falta de passeios e passadeiras, sem uma ciclovia ou uma faixa destinada ao transporte público.
“Os peões não são bem-vindos, isto é uma via desenhada para carros, é uma mistura entre uma avenida e uma via rápida”, criticou ao Porto Canal Hélder Cervantes, morador numa das transversais da Circunvalação há sensivelmente cinco anos.
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Requalificação da Circunvalação não avançou
Desde 2017 que existe um projeto de requalificação para a Estrada da Circunvalação que ronda os 58 milhões de euros.
A proposta prevê transformar o separador central num corredor destinado ao transporte público e construir uma ciclovia. Constam ainda a criação de 40 novas paragens de autocarro, 2.500 estacionamentos, bem como 2.800 árvores.
Recorde-se que, na altura o projeto fora apresentado pelas autarquias de Porto, Gondomar, Maia e Matosinhos, embora o Estado, neste caso, a Infraestruturas de Portugal (IP) seja ‘proprietária’ da estrada nacional.
Quase sete anos depois, as obras ainda não arrancaram devido ao impasse em torno da propriedade. Ou seja, a requalificação da Circunvalação só avança quando os municípios forem os seus ‘donos’.
Contudo, isto só acontecerá quando a transferência da tutela da rodovia vier acompanhada pelo financiamento necessário para fazer as obras.
É de referir que a maior parte do envelope financeiro previsto sairia dos cofres do município do Porto, (cerca de 32 milhões de euros), depois de Matosinhos (desembolsaria perto de 14.7 milhões de euros), segue-se Gondomar (participaria com oito milhões de euros) e, por último, a Maia (com orçamento de 3.1 milhões de euros).
Via com perfil de autoestrada
O elevado tráfego automóvel e a excessiva velocidade dos automobilistas também fazem parte das queixas de quem circula pela Circunvalação, independentemente do modelo de transporte. Este perfil torna a estrada nacional numa das mais perigosas da Área Metropolitana do Porto.
Recorde-se que a rodovia está sujeita a uma velocidade controlada de 50 Km/h, limite que está a ser constantemente a ser ultrapassado.
Para fazer jus à velocidade, a via é sujeita a operações de controlo de velocidade por radar fixo, ações essas que são levadas a cabo pela Polícia de Segurança Pública (PSP).
“Quem mora nesta zona ouve quase todas as noites carros de alta cilindrada a fazer disto um autódromo e é curioso ver que a Polícia age numa altura em que as pessoas estão a fazer a sua vida e estão a levar os filhos à escola, mas quando há comportamentos de falta de civismo não vemos presença policial”, interroga Hélder Cervantes.
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