Jovens adultos ex-institucionalizados ainda têm pesadelos com entrada no lar

| País
Porto Canal / Agências

Lisboa, 11 ago (Lusa) - Um estudo sobre as fases que marcaram a vida de jovens que viveram durante anos institucionalizados revelou que a entrada no lar é recordada por muitos como o momento "mais negativo", que ainda hoje causa pesadelos e mal-estar.

"Lembro-me como se fosse hoje, (...) fiquei naquela casa grande com gente desconhecida que me metia medo e que não me transmitia a calma da minha mãe. Foi horrível! Ainda hoje sinto o cheiro e os sons que me atormentavam", conta um dos participantes no estudo "Os desafios da autonomização - Processos de transição para diferentes contextos de vida, segundo jovens adultos ex-institucionalizados".

A investigação desenvolvida por João Pedro Gaspar para a sua tese de doutoramento, apresentada na Universidade de Coimbra (UC), recorreu a uma base de dados com 100 jovens adultos que viveram mais de 10 anos em instituições, tendo sido selecionados 26 para participarem no estudo.

A trabalhar há cerca de 15 anos em instituições de acolhimento para crianças e jovens em risco, João Pedro Gaspar quis perceber junto destes jovens as maiores dificuldades que enfrentaram durante a vivência institucional e depois de deixaram o lar.

"Num tempo em que a crise social deixa tantas crianças e jovens sem a proteção devida, importa refletir sobre a preparação para a vida adulta, nos casos em que os menores são 'arrancados' às famílias e ficam anos à guarda do Estado, em instituições de acolhimento", diz à agência Lusa o investigador do Instituto de Psicologia Cognitiva da UC.

A fase de autonomização cria problemas a qualquer pessoa, mas principalmente a quem não tem ninguém que os apoie na altura de arranjar um emprego, alugar uma casa e "em muitas outras situações sociais e económicas que vão surgindo", explica.

Mas até chegarem a esta etapa "há momentos demasiado marcantes" nas suas vidas, nomeadamente o acolhimento inicial, que ocorre numa altura de "fragilidade emocional", provocando "natural angústia e desespero", sendo muitas vezes relatado como revolta por viver longe da família.

Para muitos, é mesmo "a transição mais negativa que vivenciaram", observa o investigador.

"O medo da noite, a falta dos familiares, dos odores e dos sons com os quais se familiarizaram, bem como a visão de pares que, por vezes, terão sido hostis, ou mesmo a indiferença e a rotatividade dos cuidadores, contribuíram para que a falta de contactos com a família não fosse o único aspeto negativamente marcante na entrada na instituição de acolhimento", sublinha o investigador.

Comparativamente com outros países da União Europeia, Portugal tem uma grande variedade nas ofertas de acolhimento, centrando-se a esmagadora maioria em lares de infância e juventude e em centros de acolhimento temporário, contrastando, por exemplo, com o Reino Unido onde a maior parte das crianças em risco é abrigada por famílias de acolhimento.

Atualmente, para cerca de metade dos casos, a saída da instituição só ocorre após os 15 anos, sendo o regresso ao meio natural de vida o principal destino.

Em 2013, havia 8.445 crianças e jovens em instituições de acolhimento, segundo a Segurança Social.

HN // CC.

Lusa/fim

+ notícias: País

Montenegro quer português como língua oficial da ONU até 2030

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, quer que os países parceiros na CPLP alinhem posições para que o português seja reconhecido como língua oficial das Nações Unidas até 2030, considerando que "seria um justo reconhecimento".

Sindicato dos Profissionais de Polícia repudia comunicado do MAI sobre remunerações

O Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP/PSP) reiterou que não aceitará qualquer tentativa de induzir os cidadãos em erro, nem de discriminação dos polícias, numa reação ao comunicado emitido no sábado pelo Ministério da Administração Interna (MAI).

FC Porto vai ter jogo difícil frente a Belenenses moralizado afirma Paulo Fonseca

O treinador do FC Porto, Paulo Fonseca, disse hoje que espera um jogo difícil em casa do Belenenses, para a 9.ª jornada da Liga de futebol, dado que clube "vem de uma série de resultados positivos".