Parque de campismo de Cortegaça está sem luz há dois meses. Situação revolta campistas
Catarina Cunha
Em tempos foi um paraíso à beira-mar plantado, mas, neste momento, o parque de campismo de Cortegaça, em Ovar, é um espaço sem condições de vida para os poucos residentes e as centenas de campistas, que lá residem, uma vez que, há cerca de dois meses, se encontra sem eletricidade.
No mês de maio, a água também chegou a faltar, durante alguns dias.
Atualmente, o espaço é gerido por uma administração provisória, que foi nomeada pelo Tribunal.
“Houve um processo em Tribunal durante dez anos com os antigos concessionários do parque de campismo - Clube Campismo de Caravanismo os Nortenhos - que terminou em janeiro (…), mas nesses dez anos o Tribunal nomeou um administrador judicial [para gerir o espaço]”, explica ao Porto Canal, o Presidente da Junta de Freguesia de Cortegaça.
Segundo Sérgio Vicente, a situação atual do campismo deve-se ao facto de a entidade gestora não ter dinheiro para pagar as despesas, devido ao aumento dos preços de energia e das baixas mensalidades (muitas delas estão abaixo dos 100 euros) que cobra aos campistas.
Agora, no final dos 10 anos, a gestão vai passar para a Junta de Freguesia, algo que ainda não ocorreu porque a atual administração pediu o alargamento do prazo “para resolver questões fiscais e dos trabalhadores”, antes de passar a pasta.
A junta local garante que “enquanto o prazo de aviso prévio aos trabalhadores não terminar, não podemos assumir a gestão” e por isso não podem resolver o problema de abastecimento de luz.
“Não fomos nós que fizemos a dívida, as faturas não estão no nome da Junta, estão no nome da empresa. Por isso, é que a Junta não as pode pagar e acredite que já tentamos negociar, até com o argumento que eles pagaríam por prestações e depois nós quando assumíssemos [a gestão] pagaríamos o restante dos créditos e dos débitos, mas nem isso foi possível”, reforça Sérgio Vicente.
O Presidente da Junta compreende a revolta dos campistas, contudo acredita que só depois do verão é que a luz vai voltar. “Eventualmente, não se resolverá este verão, mas muito sinceramente prefiro defender o direito dos trabalhadores [da empresa gestora], do que as férias dos utentes do parque. Se não podem fazer férias neste verão, terão que procurar outro sítio”, acrescenta.
O mês de setembro é a data estimada para a Junta de Freguesia tornar-se a gestora do parque de campismo de Cortegaça.
O Porto Canal esteve no local, mas ficou à porta, uma vez que não teve autorização para entrar. Os campistas com quem esbarramos na entrada dizem estar revoltados com as condições em que vivem e tristes por terem que repensar num plano, caso a situação perdure no tempo. Se assim for, as memórias de uma vida irão desvanecer.
“Eles agora meteram aí um gerador e numa casa de banho há luz .E há água em todas as casas de banho, de resto nas rulotes e nas ruas não há luz nenhuma”, relata o campista António Fortunato, que frequenta o espaço, sazonalmente, há 19 anos.
Entretanto, encontramo-nos com um jovem que saía para mais um dia de trabalho como nadador-salvador na praia de Cortegaça. David, disse-nos com a voz embargada que há 20 anos que vive no parque de campismo e que desde 10 de junho - dia em que chegou ao campismo - sobrevive com o básico.
“Por exemplo, as refeições são à base de arroz, atum, salsichas. Às vezes, vou comprar carne durante o dia para fazer para o jantar. Para carregar os telemóveis, tem que ser nos cafés quando estou a trabalhar, ou nas power banks. Depois, é aproveitar o máximo de luz que consigo. À noite já não se faz nada, fica-se na tenda”, refere o jovem.
Ambos os campistas acreditam que a situação vai danificar a imagem de Cortegaça. “Acho muito mau porque este parque era o que dava a vida a esta vila e até acho que fica mal visto estar sem luz, porque é uma coisa muito simbólica para certas pessoas”, disse David com os olhos cheios de água.