Morreu o historiador José Mattoso aos 90 anos

Morreu o historiador José Mattoso aos 90 anos
Lusa
| País
Porto Canal / Agências

O historiador José Mattoso morreu este sábado, aos 90 anos, informou o atual diretor da Torre do Tombo, destacando o seu papel na modernização dos arquivos nacionais e municipais.

Em declarações à Lusa, via telefone, Silvestre Lacerda confirmou a morte, “esta manhã”, de José Mattoso, ex-diretor da Torre do Tombo, destacando que o historiador se preocupou em “valorizar a memória nacional”.

O atual diretor da Torre do Tombo recordou que José Mattoso foi presidente do Instituto Português de Arquivos, criado em 1988 e o primeiro organismo português vocacionado para planear e estabelecer um sistema nacional de arquivos, e coordenar e executar uma política arquivística integrada.

Da fusão do Instituto Português de Arquivos com o Arquivo Nacional da Torre do Tombo resultaram os atuais Arquivos Nacionais/Torre do Tombo.

Quando dirigiu a Torre do Tombo, de 1996 a 1998, José Mattoso colocou Portugal “em contacto com o Conselho Internacional de Arquivos”, lembrou Silvestre Lacerda.

José Mattoso nasceu em Leiria, em 22 de janeiro de 1933, e foi o primeiro a ser distinguido com o Prémio Pessoa, em 1987.

Autor de mais de 30 obras (algumas em colaboração), renovou o interesse pelo estudo da Idade Média portuguesa, área sobre a qual publicou a maior parte da sua obra, nomeadamente “Identificação de um País” (1985), que apresentou novas linhas de investigação sobre aquele período.

O historiador assinou também uma biografia de D. Afonso Henriques, publicada em 2006 pelo Círculo de Leitores, e dirigiu várias obras coletivas (“História de Portugal”, 1993-1994; “História da vida privada em Portugal”, 2010-2011; “Património de origem portuguesa no mundo”, 2010).

A produção historiográfica de José Mattoso começou a ser publicada em 1968, com “Les Monastèresde la Diocèse du Porto de l’an mille à 1200”, seguindo-se, em 1970, “As Famílias Condais Portucalenses séculos X e XI”, tema a que voltou, em 1981, com a obra “A Nobreza Medieval Portuguesa. A Família e o Poder”.

Em 1982, publicou “Religião e Cultura na Idade Média Portuguesa”, em 1985 “Portugal Medieval” e, no ano seguinte, a sua obra de referência, “Identificação de um País” (dois volumes), que lhe valeu o Prémio Alfredo Pimenta e o Prémio Ensaio do P.E.N, Clube, em 1986.

Em 2005, publicou “A dignidade Konis Santana e a Resistência Timorense”, uma das suas raras incursões na História Contemporânea, quando aceitou ser “colaborador voluntário do Instituto Português de Auxílio à Cooperação, durante os cinco anos” que permaneceu em Timor, como explica na introdução da biografia daquele combatente timorense.

Numa rara intervenção política, foi mandatário nacional do Partido Livre, em 2015.

Em 2012, publicou “Levantar o Céu – Os Labirintos da Sabedoria”, que lhe valeu o Prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes, do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, da Igreja Católica, um galardão a juntar a outros com os quais foi distinguido ao longo da carreira, como o Prémio Böhus-Szögyény de Genealogia, em 1991, ou o Troféu Latino, em 2007.

Em 1992, o Estado português condecorou-o com o grau de Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada.

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