Costa afirma que divergência com Marcelo foi "uma exceção" e sem dramatismo
Porto Canal/Agências
O primeiro-ministro afirmou esta quarta-feira que a divergência com o Presidente da República em torno da manutenção do ministro João Galamba no Governo foi uma “exceção”, sem dramatismo, numa relação institucional marcada pelo “acerto de agulhas”.
Esta interpretação sobre a comunicação ao país feita por Marcelo Rebelo de Sousa, na quinta-feira, foi transmitida por António Costa esta tarde após a cerimónia de entrega do Prémio Camões 2021 à escritora Paulina Chiziane no antigo Picadeiro Real.
Perante os jornalistas, o líder do executivo referiu que a comunicação ao país do chefe de Estado confirmou uma divergência “quanto à responsabilidade de um conjunto de eventos deploráveis” no Ministério das Infraestruturas.
“Em sete anos e dois meses de relacionamento foi uma exceção naquilo que o próprio Presidente da República designou como uma relação marcada pela capacidade de acertarmos agulhas. Por isso, não se justifica dramatizar que em sete anos e dois meses tenha havido um momento onde as agulhas não ficaram acertadas”, sustentou.
António Costa referiu-se depois à segunda parte da comunicação de Marcelo Rebelo de Sousa “sobre o futuro” ao nível das relações entre Presidente da República e Governo.
Nessa parte sobre o futuro, segundo o primeiro-ministro, “há total convergência” com o chefe de Estado.
“O que mais importa é manter uma boa relação entre os órgãos de soberania para garantir a estabilidade e que se permita prosseguir uma ação em que as melhorias da economia se vão progressivamente traduzindo na melhoria das condições de vida Dos portugueses”, afirmou.
Na quinta-feira, na sua comunicação, Presidente da República prometeu que estará "ainda mais atento e mais interveniente no dia a dia" para prevenir fatores de conflito que deteriorem as instituições e "evitar o recurso a poderes de exercício excecional".
O chefe de Estado qualificou a sua discordância em relação à decisão do primeiro-ministro de manter João Galamba como ministro das Infraestruturas como uma "divergência de fundo" e considerou que essa decisão de António Costa tem custos "na credibilidade, na confiabilidade, na autoridade do ministro, do Governo e do Estado".
"O que sucedeu terá outros efeitos no futuro. Terei de estar ainda mais atento à questão da responsabilidade política e administrativa dos que mandam, porque até agora eu julgava que sobre essa matéria existia, com mais ou menos distância temporal, acordo no essencial. Viu-se que não, que há uma diferença de fundo", considerou.
"Assim, para prevenir o aparecimento e o avolumar de fatores imparáveis e indesejáveis de conflito, terei de estar ainda mais atento e mais interveniente no dia a dia, para evitar o recurso a poderes de exercício excecional que a Constituição me confere e dos quais não posso abdicar", prosseguiu.