SC Salgueiros vai voltar a ter um campo de futebol em Arca d’Água, mas aguarda venda de terreno
Francisco Graça
O Sport Comércio e Salgueiros vai voltar a ter uma “casa”, garante o atual presidente, Gil Almeida. A promessa veio da Câmara Municipal do Porto, que deixou a construção de um equipamento público com capacidade para cinco mil lugares no Plano Diretor Municipal (PDM) aprovado em 2021.
O “Salgueiral”, nome carinhoso dado pelos adeptos da equipa de Paranhos, não tem estádio próprio desde que o Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro foi demolido em 2006 para dar lugar a uma estação de metro. O novo estádio, que devia ter sido construído nos terrenos de Arca d’Água, entre a VCI e a Rua de Monsanto, nunca chegou a ser terminado por alegado desvio de verbas. No lugar dos alicerces escavados nasceu um lago natural apelidado de “Charca de Salgueiros”.
Agora, o SC Salgueiros vê a luz ao fundo do túnel. O novo PDM, votado e aprovado em 2021 pela Câmara do Porto, prevê a edificação de um estádio municipal para os terrenos de Arca d’Água. Segundo os estudos urbanísticos apresentados publicamente e, mais tarde, explicados ao Salgueiros, a Unidade Operativa de Planeamento e Gestão (UOPG) número 7, “Regado”, antecipa a reabilitação de toda a zona da “charca”.
A charca de Salgueiros, do tamanho da Rotunda da Boavista, enfiada entre a VCI, a Rua de Monsanto e Arca d’Água
A reabilitação da “Charca”
A “Proposta de Estrutura Verde” da autarquia promove um corredor ecológico de quatro hectares, que una os vários lotes por construir, enquanto permite a edificação de prédios habitacionais em pontos específicos. Os terrenos atuais das zonas do “Regado” – outro nome para a zona a ocidente de Arca d’Água – estão na posse de diferentes sociedades. Quem finalmente avançar para a construção na zona tem de “doar” à Câmara do Porto os “espaços verdes” definidos, para que aí o executivo faça o arranjo urbanístico e instale o equipamento municipal desportivo.
Ao Porto Canal, Gil Almeida destaca o “sonho antigo” do Salgueiros de voltar a jogar na freguesia de Paranhos, “território antigo” do clube, onde existe uma forte implantação de associados e apoiantes.
Unidade Operativa de Planeamento e Gestão (UOPG) número 7, “Regado”, antecipa a reabilitação de toda a zona da “charca” com a construção de um campo de futebol. Imagem cedida pelo SC Salgueiros
Sobre o estádio de Arca d’Água que nunca chegou a ser terminado, Gil Almeida critica uma gestão antiga que não teve capacidade de salvaguardar o futuro do clube. “O estádio não garantia, por si, resultados desportivos que mantivessem o Salgueiros na primeira liga”, concede Gil Almeida, “mas se o estádio tivesse sido construído, os salgueiristas teriam mantido uma casa em Paranhos, do ponto de vista da identidade do clube e dos adeptos, era uma relação física com a freguesia”.
O novo estádio municipal apenas será construído quando a atual sociedade privada detentora dos terrenos avance para a construção imobiliária, ou então venda a propriedade e seja outra empresa a edificar a zona. “A atual proprietária dos terrenos quer vender, é o que sei. É uma questão de esperar, e manter o sonho vivo”, diz o presidente do Salgueiros.
Proposta de equipamento municipal de cinco mil lugares para ser construído na zona 7 "Regado", nos terrenos ocupados atualmente pela Charca de Salgueiros. Imagem cedida pelo SC Salgueiros
O lago no centro do Porto
No centro da cidade do Porto, entre a VCI, a Rua de Monsanto e o Jardim de Arca d’Água, existe um terreno abandonado com um lago do tamanho da Rotunda da Boavista. A massa de água nasceu das escavações dos alicerces de um campo de futebol que nunca chegou a existir. Há quem jure que na água se passeiam camarões negros, já foi local de pesca ilegal e avistam-se frequentemente garças-reais. Quem vive na zona chama ao pântano, com carinho, Estádio do Salgueiros.
“O meu projeto era um estádio pequeno, agradável, simpático, mas com o conforto e a imagem dos estádios grandes. Espaço para 12 mil pessoas não era excessivamente ambicioso”, garante Pedro Karst, arquiteto responsável por todo o projeto que nunca viu a luz do dia.
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“O Salgueiros entra com um Pedido de Informação Prévia para construir o estádio em 2000. Iniciam-se as escavações e encontram água no local, alaga tudo. Depois vêm os problemas financeiros. A empresa que ia tratar da alavancagem da construção imobiliária ao lado do estádio declara falência. O Salgueiros desce de divisão, o José António Linhares cai pouco depois, o futebol sénior desaparece em 2005. Em 2006, há a primeira hasta pública para efeitos de distribuição de dinheiro pelos credores do Salgueiros”. O pesadelo interminável descrito por Gil Almeida. A quase morte de um clube por onde passaram Deco, Sá Pinto e Marco Caneira.
“Há muitos motivos para aquela água toda. Passavam ali duas condutas de água da Câmara, que levam a água da zona de Arca d’Água para jusante, encaminha-se pela VCI em direção ao Fluvial. Porque não desaparece a água? Porque o terreno é saibroso, uma espécie de bairro, é bastante impermeável, e depois há ali um nível freático razoavelmente alto, há água nos terrenos circundantes”, conta Pedro Karst.
O Jardim de Arca d’Água foi construído em cima de um manancial antigo, fonte de abastecimento de parte da cidade durante anos. A toponímia das regiões não costuma enganar.