Brasileiros esquecem rivalidade e saem às ruas para ver festa argentina
Porto Canal / Agências
A rivalidade histórica entre Brasil e Argentina foi hoje, aparentemente, esquecida, com muitos brasileiros a saírem às ruas no Rio de Janeiro para assistir à grande festa dos "vizinhos" latino-americanos, aguentando com bom humor às provocações.
"Brasil, diga-me o que se sente, ter em casa seu 'pai'. Juro-te, ainda que passem os anos, nunca vamos esquecer, que Maradona te driblou, Caniggia te vacinou, que estão chorando desde a Itália (1990) até hoje", diz a canção que ecoa desde a praia de Copacabana até as estações de metro que levam ao Maracanã.
Ainda que os rivais do dia sejam os alemães, a provocação vai contra os brasileiros, a recordar o Mundial de 1990, na Itália, quando a Argentina eliminou os brasileiros nos oitavos de final, com um triunfo por 1-0, selado por Caniggia, isolado por Maradona.
No caminho para o estádio, e mesmo perante tanta provocação, os anfitriões da festa mostram-se divididos na hora de dizer em quem vão apoiar e não se importam com as brincadeiras, que incluem recordar a goleada sofrida contra a Alemanha, na meia-final de terça-feira, os inesquecíveis 1-7.
"Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete...", contavam, vagarosamente, os argentinos no metro de Copacabana, enquanto um brasileiro, com bom humor, respondia: "Acho que eles estão contando os números de estações, certo?".
Mais orgulhosos, na outra ponta da carroagem, alguns jovens brasileiros tentavam responder à provocação com um grito de "pentacampeão" - a recordar que o Brasil já venceu cinco mundiais, enquanto a Argentina só arrecadou dois.
No meio do branco e azul e da cantoria - que seguia garantindo que o avançado Messi levará a Taça para a Argentina e que Maradona é melhor do que Pelé -, muitos brasileiros admitiram que estavam ali apenas para presenciar o momento histórico.
"Não tenho bilhete para o jogo, estou a ir até ao Maracanã só para ver o ambiente", admitiu à agência Lusa Rômulo Barioni, de 28 anos, que fazia vídeos e foto dos "hermanos", maneira como os brasileiros se referem aos argentinos.
A seu lado, outro brasileiro contou que estava apenas acompanhando uma família de argentinos que conhecera por amigos em comum, evitando mencionar a que equipa apoiaria durante o jogo.
"Estou torcendo para ver bom futebol e que corra tudo bem", afirmou o administrador Marcelo Freitas, a elogiar o bom ambiente do evento, que não registou hostilidades ou confrontos entre as claques.
Entre os anfitriões, poucos ainda levavam a camisa brasileira, e muitos saíram com a camisola da equipa mais conhecida do país, o Flamengo, que é praticamente igual à da seleção alemã.
"Vou apoiar a Alemanha, claro", diziam outros, a explicar que mesmo após a goleada por 7-1, ainda seria mais fácil "suportar" os alemães a celebrarem a vitória do que os argentinos.
Em minoria, os alemães tentavam destacar-se pintado o rosto e abraçando a bandeira negra, vermelha e amarela, que começou a ser vendida na avenida marítima de Copacabana desde o apuramento germânico para a final.
Do lado da claque argentina, estão os brasileiros com algum parentesco ou amizades, e ainda os opositores da atual presidente Dilma Rousseff, por acreditarem que uma vitória dos "hermanos" colaboraria para uma derrota da atual líder nas urnas, em outubro.
"Sempre gostei da Argentina, desde pequeno, e hoje vou apoiá-los, claro, mas há muito brasileiro também que está apoiando (os argentinos) por causa do governo e por causa da goleada", explicou Roque Júnior, vendedor, de 31 anos.
O Brasil viveu durante o Mundial uma verdadeira "invasão" de argentinos, muitos dos quais se deslocaram de carro ao país, enfrentando uma viagem de quase três dias.
Para abrigá-los, as entidades do Rio de Janeiro disponibilizaram imensos espaços, entre eles o Sambódromo - para que estacionassem seus 'motorhomes' e até acampassem.
O policiamento para a final também foi aumentando e é o maior já visto na cidade, contando com um efetivo de mais de 27.000 homens, que atuarão principalmente no estádio e nos arredores do FanFest.