Nova linha Porto-Lisboa pode ficar só para Espanha
Porto Canal
A linha de alta velocidade entre Porto e Lisboa pode arrancar apenas com comboios operados por Espanha. O adiamento do perdão à dívida histórica da CP para 2023 atrasa a compra e chegada de material preparado para circular na nova linha. Segundo o jornal Eco, a situação já está a gerar mal-estar entre os ministérios de Pedro Nuno Santos e de Fernando Medina, que tutelam a transportadora pública ferroviária.
Em vigor desde o final de junho, o Orçamento do Estado para 2022 estabeleceu uma verba de 1,81 mil milhões de euros para reduzir em mais de 80% o passivo da transportadora. A pouco mais de dois meses do final do ano, a operação mal avançou e o Governo prepara-se para pedir uma nova autorização ao Parlamento para injetar capital na CP, agora no valor de 1,899 mil milhões de euros, escreveu este sábado o jornal Público.
O perdão da dívida à CP é fundamental para a empresa pública ter material capaz de circular na nova linha entre Porto e Lisboa, com velocidade máxima de 300 km/h. No Orçamento do Estado para 2023, está prevista a autorização para o lançamento do concurso para a compra de 12 novos comboios de alta velocidade.
“A CP prevê ainda o lançamento, em 2023, de concurso para a aquisição de 12 comboios de alta velocidade no valor de 336 milhões de euros. Este investimento deverá ser feito com fundos próprios da empresa, viabilizado pelo saneamento da dívida histórica da mesma”, assim está escrito no documento. Os comboios de alta velocidade vão fazer parte do serviço comercial da CP, pelo que não podem ser comprados com financiamento do Estado. A empresa tem de recorrer a fundos próprios para pagar a encomenda.
A compra de comboios é um processo moroso e que leva vários anos. Por exemplo, a compra de 22 novos comboios regionais foi aprovada pelo Governo em setembro de 2018 mas apenas em outubro de 2021 é que a CP finalmente pôde fazer a encomenda aos suíços da Stadler. As primeiras unidades só vão chegar entre 2025 ou 2026, ou seja, mais de sete anos depois da primeira etapa.
Ou seja, o processo de compra de comboios para a alta velocidade não está imune a estes problemas. Se o concurso público ainda for lançado em 2023, não é expectável que as novas composições cheguem à CP antes de 2030.