Trabalhadores da refinaria de Matosinhos em risco de despedimento coletivo
Porto Canal com Lusa
Os trabalhadores da refinaria da Galp, em Matosinhos, que deverá encerrar este ano, estão em risco de um despedimento coletivo a ter início já “nos próximos tempos”, disse hoje um dirigente sindical.
“Ainda não existe nenhuma comunicação oficial da empresa, mas nas entrevistas individuais que a administração tem mantido com os trabalhadores é-lhes dito muito claramente que a alternativa à rescisão por mútuo acordo é o despedimento coletivo”, afirmou o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente (SITE) do Norte e da comissão de trabalhadores, Telmo Silva, na Assembleia da República.
Esse despedimento coletivo deverá ter início já “nos próximos tempos”, após concluídas as entrevistas aos trabalhadores, sublinhou o sindicalista numa sessão conjunta das comissões de Trabalho e Segurança Social e Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação.
Segundo Telmo Silva, a administração da Galp tem estado a reunir individualmente com os trabalhadores, processo que deverá estar concluído na quarta-feira.
A partir desse dia, as comunicações a dar conta do despedimento coletivo deverão “começar a chegar em devido tempo”, frisou, acrescentando não saber se “vai ser num momento só ou em vários”.
“O que sabemos é que a partir de 31 de março [quarta-feira], a qualquer momento, irá ser comunicado o despedimento coletivo aos trabalhadores”, frisou.
A Galp anunciou em dezembro de 2020 a intenção de concentrar as suas operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos, distrito do Porto, este ano.
A decisão põe em causa 500 postos de trabalho diretos e 1.000 indiretos, conforme estimativas dos sindicatos.
Atualmente, cerca de 50 trabalhadores de 'outsourcing´ [processo usado por uma empresa no qual outra organização é contratada para desenvolver uma certa área da empresa] receberam, no início deste mês, cartas de despedimento, contou.
“É sempre a somar despedimentos. Não se tratam só dos trabalhadores da Petrogal, mas de todos aqueles que prestam serviço diariamente naquelas instalações através de outras empresas”, afirmou.
A situação dos trabalhadores é “angustiante” porque continuam sem respostas quanto ao seu futuro e a receber “silêncio” por parte da empresa e do Governo, vincou.
Telmo Silva criticou o Governo de António Costa por “nada dizer” sobre o anunciado encerramento, assistindo ao “espoliar de postos de trabalho e de direitos” em silêncio.
O sindicalista questiona o porquê do Governo não intervir na refinaria, onde é acionista, e intervir “muito ativamente” em empresas em que não é acionista.
O também membro da comissão de trabalhadores considerou que a decisão de fechar a refinaria “nada tem a ver” com questões ambientais, mas sim interesses económicos.
Até porque o que vai acontecer é uma transferência de emissões para Sines e não a sua diminuição, alertou, acrescentando que o complexo petroquímico de Matosinhos é dos “melhores colocados” ambientalmente em termos europeus, sendo apenas responsável por 1,7% de emissões no país.
Além disso, há produtos que só a refinaria de Matosinhos produz e, com o seu fecho, estes vão ter de começar a ser importados aumentando não só os custos para o país, mas as emissões com o tráfego marítimo.
Também Hélder Guerreiro, da Comissão Central de Trabalhadores da Petrogal, reafirmou não ter sido apresentada, até agora, nenhuma justificação válida para o encerramento do complexo petroquímico.
Falando numa decisão “profundamente errada”, Hélder Guerreiro disse que a avançar o fecho será “altamente lesivo” não só para os trabalhadores, mas para a região e o país.
Os trabalhadores já organizaram quatro protestos: um junto à Câmara Municipal de Matosinhos, a 12 de janeiro, outro a 02 de fevereiro em frente à sede da Galp e à residência do primeiro-ministro, um terceiro a 25 de fevereiro, junto à Câmara Municipal do Porto, e um último a 18 de março, novamente frente à residência do primeiro-ministro.
O Estado é um dos acionistas da Galp, com uma participação de 7%, através da Parpública.
A Lusa tentou ouvir a Galp, mas sem sucesso até ao momento.