Covid-19: Mercado da arte abraçou o digital e perdeu apenas 21% das vendas
Porto Canal com Lusa
Paris, 15 mar 2021 (Lusa) - O mercado internacional da arte, forçado a mudar-se substancialmente para o mundo digital, devido à pandemia, sofreu apenas uma quebra de 21% na faturação, devido à descoberta de novos clientes e horizontes, revela o relatório da Artprice.
Publicado anualmente pela empresa líder de informação sobre o mercado de arte, o relatório reúne os resultados do volume de negócios de peças de arte, datadas do século XVII até à atualidade, em pintura, escultura, desenho, fotografia, gravura, vídeo, instalações, tapeçaria, excluindo mobiliário e automóveis.
Sob confinamentos sucessivos, em muitos países, ao longo de 2020, os leilões de arte à distância tornaram-se o 'novo normal', assim como vendas totalmente 'online', sem leiloeiro, indica o mais recente relatório da empresa francesa, que gere uma base de dados de centenas de milhares de transações, em leilão, e de valores de vendas de mais de 630 mil artistas.
"O mercado da arte conseguiu recuperar através da tecnologia digital, na qual investiu totalmente, o que permitiu conter a queda do faturamento", sublinha Thierry Ehrmann, presidente da Artprice, no relatório, considerando esta mudança uma verdadeira "revolução".
Para o responsável, esta "mudança espetacular funcionou além das expectativas, apesar das reticências de algumas casas de leilão, agarradas aos velhos métodos presenciais", disse hoje à agência de notícias France Presse.
Sobre as razões que explicam as perdas limitadas, Thierry Ehrmann aponta uma evolução sociológica: "Os leilões na internet atraem novos clientes, entre os 30 e os 40 anos, que não tinham acesso ou não gostavam do antigo sistema. Esta faixa de clientes procura sobretudo a arte contemporânea, cerca de 16% do mercado", disse.
A evolução é também geográfica: "Já não existem fusos horários. Uma leiloeira belga ou sueca, por exemplo, pode descobrir novas áreas de riqueza, clientes em Singapura ou na Indonésia, por exemplo", exemplificou.
"Este mercado estava atrasado trinta anos e, num ano, atingiu um novo equilíbrio, que as projeções mais otimistas previam só para 2025", saudou.
Mais clientes em linha "implicam também mais concorrência". A taxa de venda muito positiva, de 76%, "reside nesta audiência renovada, a par de estimativas de preços prudentes para serem atrativos", salienta o relatório.
O desempenho chinês é o mais impressionante no documento da Artprice relativo a 2020: a China atingiu o primeiro lugar em volume de negócios no setor, depois de ter ficado quatro anos atrás dos Estados Unidos, e pesando atualmente 39% deste mercado das artes.
Do 'bolo' das vendas, 27% ficam para os Estados Unidos, onde o impacto da pandemia teve fortes repercussões, enquanto o Reino Unido atinge 15%.
"A China soube criar um mercado interno, com limitações das exportações, e viu nascer novas casas de leilões", notou Thierry Ehrmann. Depois de um primeiro semestre de 2020 marcado pelo confinamento, as vendas tiveram forte evolução no país.
Na Europa, a França sofreu uma forte queda, com um volume de negócios de 483 milhões de euros, menos 31% do que em 2019, na linha das quebras do Reino Unido (-30%), e da Itália (-32%).
A Alemanha, no entanto, concluiu o ano no verde, menos afetada pela pandemia, com uma subida de 11% nas vendas.
Nas transações de 2020, destacam-se o tríptico do artista irlandês Francis Bacon, por 84,6 milhões de dólares (cerca de 75 milhões de euros), num leilão realizado pela Sotheby's, em Londres, já sem presença de público.
O relatório de 2020 aponta ainda boas vendas dos artistas Roy Lichtenstein, David Hockney, San Yu, e uma forte procura de pintura figurativa contemporânea, nomeadamente ligada a África, dando o exemplo do artista ganês Amoako Boafo, enquanto o artista Banksy vendeu um número recorde de obras, cerca de 900.
Nas transações deste ano, à margem do relatório, a imprensa internacional destacou, na passada quinta-feira, a venda, num leilão da Christie's, de uma obra inteiramente digital, do artista Beeple, pelo valor recorde 69,4 milhões de dólares (58,4 milhões de euros).
A obra foi também adquirida por um "investidor digital", "Metakovan", fundador e financiador da Metapurse, o "maior fundo do mundo de NFT [ativos únicos digitais]", segundo a Christie's.
Também pela primeira vez, numa venda do género, foi aceite cripto-moeda, neste caso "Ethereum (Ether)".
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