Crise Académica/50 anos: Rui Pato recorda o movimento estudantil de 1969 que revolucionou Coimbra

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Porto Canal com Lusa

Coimbra, 16 abr 2019 (Lusa) - O movimento estudantil que originou à crise académica de 1969 transformou por completo a cidade de Coimbra, considera o médico Rui Pato, um dos intervenientes que acabou expulso da universidade e forçado ao serviço militar.

"Há uma Coimbra antes e depois de 1969, porque tudo aquilo que era bolorento se transformou, tudo, a própria revolução dos costumes, com as raparigas a poderem sair dos lares à noite e o fim da praxe para os caloiros por não poderem sair à noite", disse o antigo diretor do Centro Hospitalar de Coimbra, atualmente aposentado.

A cidade, "que era quase medieval, bolorenta e jesuíta, a partir do movimento académico de 1969 transforma-se completamente", sublinha o médico pneumologista.

"Ter uma fotografia daquilo que era a Praça da República antes e depois de 1969 é como se fossem duas praças diferentes, porque passa a ser realmente uma praça com gente, com estudantes, com rapazes e raparigas a divertirem-se, a fazerem teatro e a cantar Lopes Graça", recorda.

Rui Pato, que acompanhou à viola os cantores Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, salienta que a cidade começou a olhar para os estudantes "como uma força muito respeitável a lutar pela democracia, que interessava não só aos estudantes, mas a todos".

O movimento estudantil de Coimbra "deve ter sido qualquer coisa, embora noutra escala, semelhante ao maio de 1968 em Paris, porque começou por ser um movimento académico, mas acabou por ser um movimento também da própria cidade, que estava invadida pela GNR, com elementos da PIDE por tudo o que era canto, numa repressão terrível" sobre os estudantes.

Estes "sentiam o apoio da cidade e andavam alegremente" pelas ruas, acrescenta Rui Pato, lembrando que tinham apoio também entre elementos graduados das forças de segurança da GNR e PSP.

"Lembro-me perfeitamente do chefe Cardoso, que tinha um filho universitário e que estava completamente connosco, sendo um dos indivíduos mais graduados na PSP de Coimbra", exemplificou.

A crise académica de 1969 teve início em 17 de abril na inauguração do edifício das Matemáticas, quando o então presidente da direção da Associação Académica de Coimbra (AAC), em nome dos estudantes, pede a palavra perante o presidente da República Américo Thomaz, que não lhe foi concedida.

Os estudantes, que já estavam em luta pela democratização do ensino superior, apupam o chefe de Estado e, nesse dia à noite, o líder estudantil Alberto Martins é detido e os estudantes iniciam ações de luta que começaram com o luto académico, greve às aulas e posteriormente aos exames.

Todos os estudantes afetos à AAC, cerca de meia centena, acabam expulsos da universidade e castigados com o serviço militar, que começa com a recruta em Mafra.

Depois da recruta, Rui Pato foi enviado para Santarém, para o quartel de cavalaria, onde acabou por conhecer Salgueiro Maia, um dos capitães do 25 de Abril de 1974, que na altura era tenente.

A seguir aos comandos, a cavalaria "era a pior arma porque estava preparada diretamente para a guerra na Guiné, tinha uma instrução própria", explicou.

"Aí, foi um período duríssimo, porque foi instrução a sério, mas também teve os seus aspetos interessantes, que começou logo no dia em que fomos apresentados ao tenente Salgueiro Maia, que mandou destroçar a parada e se dirigiu-se a mim e ao João Pais Brito, que depois acabou por fugir".

"Você é que anda a acompanhar o Zeca Afonso nos discos? 'Sou sim, meu tenente'. Ora bem, vocês sabem que têm aqui um estatuto especial e que nós somos obrigados a vigiar-vos de uma maneira muito mais apertada do que aos outros recrutas que aqui temos?".

A resposta de Rui Pato e de João Pais Brito não se fez esperar: "Sabemos sim". O espanto vem a seguir com o pedido de Salgueiro Maia: "Então fica já uma coisa combinada - sempre que eu estiver de serviço, o meu amigo leva a viola para o quarto do médico de serviço".

"E assim foi. E passámos umas noites animadas e nessa altura fiquei a saber quem era o Salgueiro Maia, isto ainda em 1969, quando ainda faltava bastante tempo para a revolução de 1974, em que já no posto de capitão teve um papel importantíssimo", conta.

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