Sentido de liberdade e jogo entre sagrado e profano marcam "Romeu e Julieta" em palco

| País
Porto Canal com Lusa

Lisboa, 11 abr 2019 (Lusa) -- Sentido de liberdade, jogo entre sagrado e profano e dimensão de farsa são pedras de toque da encenação de João Mota da tragédia shakespeariana "Romeu e Julieta", a estrear dia 17, em Lisboa, com música original de José Mário Branco.

O "sentido de liberdade, de que mais vale morrer e ser livre, mesmo que sejamos vitimados por uma sociedade, do que renegarmos a liberdade e o amor" é "o grande problema" e "o lado maravilhoso" do clássico de Shakespeare que João Mota, em entrevista à agência Lusa, enfatiza no trabalho que subirá à cena no Teatro da Trindade, em Lisboa.

Coproduzida por aquele teatro ao Bairro Alto e a Comuna Teatro de Pesquisa, a peça resulta de um convite feito, "há mais de um ano", pelo diretor artístico do Trindade, Diogo Infante, a João Mota, para encenar a peça que especialistas consideram uma das mais belas e trágicas do poeta e dramaturgo de Statford-upon-Avon (1564-1616), William Shakespeare, sugerindo-lhe ainda dois atores para protagonistas, disse João Mota à Lusa.

O "jogo entre o sagrado e o profano" patentes no texto do autor inglês, centrado no ódio entre as famílias Montéquio e Capuleto, e o "lado de farsa" são outros dos pontos aliciantes na peça que João Mota classifica de "fabulosa".

Há quem pegue na peça para "demonstrar o ódio de morte que aquelas duas famílias tinham uma pela outra", disse João Mota, acrescentando não ser esse o caminho do trabalho que vai apresentar.

Romeu e Julieta, protagonizados por João Condessa e Bárbaro Branco, "são livres", por isso "preferem a morte a renegar o amor que sentem um pelo outro". E "ser livre é a coisa mais importante que há na vida", sublinha o encenador, sem deixar de acrescentar que os protagonistas da peça, cuja ação decorre em Verona, "são vítimas e vitimados por uma sociedade que se odeia entre si".

E porque Shakespeare é "um autor genial de todos os tempos", e "essencial tanto ao nível do amor, como profundamente profano para a sua época, por causa do erotismo", o diretor da Comuna optou por dar "ênfase" a esse "jogo subjacente" na peça a que não é alheio o facto de vir do princípio do Renascimento, sublinhou à Lusa.

"Estou no recreio, como eu digo", afirmou João Mota a propósito do lado de farsa que a tragédia de O Bardo contém. "O lado da tragédia que vivemos ainda hoje; as famílias, o ódio, a inveja, o ciúme, o casamento por interesse... Esta peça tem isso tudo", frisou.

"Romeu e Julieta" assinala também o regresso de José Mário Branco à composição musical para uma peça da Comuna.

"O estrangeiro em casa", do dramaturgo e encenador francês Richard Demarcy (1942-2018), que João Mota encenou na Comuna, em 1990, foi o último original do compositor para a companhia, onde também representou e para a qual compôs várias obras.

Um "retomar os tempos antigos, com a coragem de o dizer e fazer", porque José Mário Branco "é um grande compositor e o teatro precisa de grandes compositores", sustentou João Mota à Lusa, recordando peças como "A mãe" e "Homem morto, homem posto", de Brecht, com composição original de José Mário Branco, estreadas em 1978 e 1979.

João Mota estabelece o paralelo com Manuela de Freitas: "Faz imensa falta ao teatro", disse à Lusa. Por isso foi buscá-la para "assistente de encenação".

É "um cheirinho do teatro", explica sobre a atriz que está também ligada à história da Comuna, e que o assiste em "Romeu e Julieta", tal como Carlos Paulo e Manuela Couto, embora os três nomes não constem da ficha técnica do espetáculo.

Manuela de Freitas "é talvez a melhor das atrizes da sua geração", frisou João Mota, lamentando que aquela com quem cofundou Os Bonecreiros e, em 01 de maio de 1972, a Comuna, não queira regressar ao palco.

Não perde, contudo, a esperança de voltar a vê-la "num papel de protagonista, do princípio ao fim de uma peça". Sem ser necessariamente um monólogo - não por não os "apreciar", mas porque "quando se tem uma atriz disponível tão boa como a Manuela [de Freitas] deve-se dar prazer aos outros também de contracenar com ela", disse João Mota.

Para o encenador, esta versão de "Romeu e Julieta" é também "uma peça charneira entre o velho e o novo", porque conta com atores da Comuna, com jovens atores formados ou recém-formados em escolas como a Profissional de Teatro de Cascais, do Teatro Experimental de Cascais, e da Escola Superior de Teatro e Cinema, onde João Mota deu aulas durante 35 anos.

Com tradução de Fernando Vilas-Boas e adaptação de João Maria André, são intérpretes de "Romeu e Julieta" Carlos Paulo, Diogo Tavares, Eduardo Breda, Francisco Sales, Gonçalo Botelho, Guilherme Filipe, Hugo Franco, Luís Garcia, Manuela Couto, Maria Ana Filipe, Miguel Sermão, Patrícia Resende e Rogério Vale.

Com cenografia de António Casimiro e desenho de luz de Paulo Graça, a peça vai estar em cena na sala Carmen Dolores do Teatro da Trindade até 09 de junho, com espetáculos de quarta-feira a sábado, às 21:00, e, aos domingos, às 16:30.

Após a sessão de 12 de maio, haverá uma conversa com o público.

A receita de bilheteira do dia da estreia reverterá na íntegra a favor do Hospital Geral da Machava, na Beira (Moçambique), um dos intervenientes no apoio às vítimas do ciclone Idai, que atingiu o país, em 14 de março.

CP // MAG

Lusa/fim

+ notícias: País

FC Porto vai ter jogo difícil frente a Belenenses moralizado afirma Paulo Fonseca

O treinador do FC Porto, Paulo Fonseca, disse hoje que espera um jogo difícil em casa do Belenenses, para a 9.ª jornada da Liga de futebol, dado que clube "vem de uma série de resultados positivos".

Proteção Civil desconhece outras vítimas fora da lista das 64 de acordo com os critérios definidos para registar os mortos dos incêndios na região centro

A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) disse hoje desconhecer a existência de qualquer vítima, além das 64 confirmadas pelas autoridades, que encaixe nos critérios definidos para registar os mortos dos incêndios na região centro.

FC Porto em sub17 recebe e vence Padroense 2-1

A equipa de Sub-17 do FC Porto recebeu e bateu este domingo o Padroense (2-1), no Olival, em jogo da 11.ª jornada da 2.ª fase do Campeonato Nacional de Juniores B. Francisco Ribeiro (41m) e Pedro Vieira (62m) assinaram os golos dos Dragões, que mantêm a liderança da série Norte, com 28 pontos, mais três do que o Sporting de Braga.