Madeira dos passadiços destruídos nas praias de Gaia roubada para uso em lareiras
Porto Canal
Madeira proveniente dos passadiços destruídos pelo mau tempo nas praias de Gaia e chegada a terra pela corrente do mar tem sido roubada para ser usada como lenha para lareiras, entre outras utilizações, porque "em tempo de crise vale tudo".
"À noite é ver o pessoal com lanternas a correr a praia à procura de lenha para as lareiras. Levam tudo o que o mar traz. Em tempo de crise, está-se mesmo a ver, vale tudo", descreveu à Agência Lusa, Hernâni de Jesus, morador na Rua de Salgueiros, junto à praia do Canidelo, concelho de Gaia.
A este relato juntam-se outros semelhantes. Luísa Silva, habitual frequentadora do bar de praia Grão d'Areia, contou que "muito frequentemente nos últimos tempos" está na esplanada do café e vê "pessoas à cata de madeiras que foram ficando depois da destruição do passadiço".
Quem corre ou caminha na marginal, já por volta das 18/19 horas, também faz relatos idênticos, acrescentando ter visto mesmo pessoas com motosserras e carrinhos de mão n a praia.
Estas situações já foram participadas pela Polícia de Segurança Pública (PSP) à empresa Águas de Gaia e esta comunicou à Câmara deste concelho que, à Lusa, hoje e à margem de uma visita a uma das praias mais afetadas pelo mau tempo, a do Grão d'Areia, Canidelo, confirmou terem sido reportadas "várias ocorrências".
"A presença de militares aqui [está a ser desenvolvida uma operação de limpeza aos 15 quilómetros de areal de Gaia que evolve diariamente 20 militares do Regimento de Artilharia da Serra do Pilar] também ajuda a marcar posição sobre essa situação. A limpeza das madeiras vai depender do clima mas espera-se que fique concluída o mais rápido possível", disse o presidente da Câmara, Eduardo Vítor Rodrigues.
A empresa Águas de Gaia tem relato de roubos ocorridos em S. Félix da Marinha e em Valadares, entre outras localidades.
Em S. Félix da Marinha, contou à Lusa o responsável da empresa, Silva Martins, as pessoas que estavam a retirar madeiras da praia foram "identificadas pela PSP e o material apreendido". Já o caso de Valadares foi "um bocadinho mais insólito".
"Quando começamos a carregar madeiras para evitar mais roubos, depositamos o material junto à marginal para ser levado e foi aí que, sem tempo de reação para os nossos trabalhadores, as pessoas começaram a levar o material porque ele é bom, é resistente e bem tratado", descreveu Silva Martins.
Estas situações são "particularmente preocupantes", acrescentaram os responsáveis da Águas de Gaia, porque além de madeira dos passadiços estão a ser transportados para casas particulares "toros que chegam a terra vindos na corrente do mar", sendo que esses podem conter substâncias "perigosas para a saúde".
"A combustão da madeira com o sal resulta em matérias que eventualmente até são cancerígenas. A população deve ser alertada para isso", concluíram.