Cem jornalistas na ERT determinados a continuar a emitir - jornalista
Porto Canal / Agências
Atenas, 12 jun (Lusa) - Cerca de 100 jornalistas estão hoje no interior do edifício da emissora pública grega ERT, encerrada na terça-feira pelo Governo, e estão determinados a continuar a emitir pela Internet, disse à Lusa a jornalista Adriana Magania.
A jornalista, que falava à Lusa por telefone desde a redação da emissora pública, disse que o ambiente no local é de indignação, mas também de determinação.
"Estamos muito incomodados pelos acontecimentos, mas estamos determinados a ficar aqui todo o dia e até de noite e a continuar a transmitir", disse a jornalista.
Segundo Magania, o Governo cortou o site da ERT, mas outros sites privados abriram o seu sinal à emissão da estação pública, pelo que os jornalistas continuam a emitir através da Internet.
A polícia permanece no exterior do edifício, onde se mantêm centenas de manifestantes que ali passaram a noite em solidariedade com os profissionais da ERT "e para evitar que a polícia entre no edifício".
"Ouve-se dizer que eles vão entrar, mas não sabemos quando nem temos a certeza de que isso vá acontecer", disse Magania, acrescentando: "Não temos medo, estamos determinados a ficar, mesmo que a polícia entre no edifício".
Para a jornalista, a luta dos trabalhadores da ERT é hoje "uma questão de democracia".
"Não posso imaginar um país sem uma emissora pública, nem por um dia, nem por uma hora", afirmou.
Sobre a intenção governamental de criar uma nova emissora pública para substituir a ERT, encerrada no âmbito das medidas de austeridade do Governo grego, Magania recordou que ninguém sabe "quando a nova organização será criada ou quem participará nela".
"Na minha opinião, querem criar uma organização que fique sob o controlo [do Governo]", disse.
As cadeias da ERT deixaram de emitir às 23:00 (21:00 de Lisboa) de terça-feira e os écrans ficaram negros, com o emissor principal, situado numa montanha perto de Atenas, a ser desativado pela polícia, segundo fonte sindical.
A decisão de encerrar a estação pública de rádio e televisão, justificada pelo Governo com a alegada "falta de transparência e incrível extravagância" da sua gestão, foi recebida com indignação no país e no estrangeiro.
Milhares de pessoas concentraram-se na noite de terça-feira junto ao edifício da estação e o sindicato dos jornalistas convocou uma greve de 24 horas que excluía apenas as estações que estivessem a transmitir uma emissão que os funcionários da ERT mantiveram ativa, contra as ordens governamentais, através da Internet.
O sindicato dos jornalistas convocou uma manifestação em frente ao edifício da ERT para hoje às 12:00, disse à Lusa a jornalista Dimitra Letsa, da agência estatal grega.
O líder da oposição grega, Alexis Tsipras, vai pedir hoje ao Presidente, Carolos Papoulias, que se recuse a assinar a ordem de encerramento da ERT.
Mesmo os partidos pequenos da coligação governamental tripartida expressaram a sua oposição à decisão e recusaram-se a apoiá-la.
"Discordamos em absoluto" da decisão, disse o partido socialista Pasok.
Mensagens de apoio à emissora chegaram de todo o mundo, provenientes da diáspora grega, para quem a ERT é uma ligação vital ao seu país, e o encerramento foi também condenado pelo líder da Igreja Ortodoxa grega.
O arcebispo Ieronymos disse que a emissora estatal fora "violentamente" encerrada e que milhares de funcionários da ERT estavam a ser "sacrificados" para pagar décadas de administração danosa.
O Governo disse que todos os trabalhadores serão compensados e poderão candidatar-se a um emprego na nova organização que o executivo tenciona criar para substituir a ERT.
A ERT tem 2.656 trabalhadores, cerca de 600 dos quais são jornalistas.
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