Ministra da Cultura declamou versos numa fábrica para celebrar a poesia "fora dos livros"

| Política
Porto Canal com Lusa

São João da Madeira, Aveiro, 21 mar (Lusa) - A ministra da Cultura declamou hoje poesia perante os operários da fábrica de lápis Viarco, em São João da Madeira, onde defendeu que esse género literário deve celebrar-se "fora dos livros", em diferentes contextos da vida quotidiana.

A visita de Graça Fonseca àquela que é a única empresa do género na Península Ibérica verificou-se no âmbito das celebrações do Dia Mundial da Poesia e do festival literário "Poesia à Mesa", que, ao longo de todo o mês, vem promovendo a obra de vários autores lusófonos não apenas em salas de espetáculos, mas também em espaços menos convencionais como restaurantes, cafés, o centro de saúde local e autocarros da rede pública de transportes.

Depois de percorrer todas as seções da fábrica e ajudar até a acomodar as chamadas "sanduiches" de madeira e grafite de que resultam os lápis, a governante afirmou que o que está em causa é assim "um maravilhoso exemplo de como celebrar a poesia", porque essa deve ser festejada "não apenas nos livros, mas, fundamentalmente, fora deles".

Elogiando a Viarco pela disponibilidade com que alia "o extraordinário património secular do saber fazer" a uma estratégia atual de "criatividade e inovação", Graça Fonseca acrescentou: "A poesia muda a vida de todas as pessoas quando sai dos livros para o seu dia-a-dia, quando sai dos livros para aquilo que nós fazemos desde que nos levantamos até que nos deitamos".

Se antes a ministra ouvira a declamação de vários poemas pelos trabalhadores da fábrica, nessa altura substituiu-os no púlpito improvisado sobre uma das mesas da produção e recitou, ela própria, versos de Andreia C. Faria retirados ao livro "Tão bela como qualquer rapaz".

"Deixai dormir as mariposas dentro de lâmpadas partidas / e as formigas engrossarem pelos cantos / como sal. / Não inventeis mais nada, / nem formas eloquentes de evitar que o bronze oxide. / Aceitai o suor do tempo. / Que algumas coisas apodreçam.", disse Graça Fonseca, com uma dicção serena e segura.

A escolha da obra que leu não foi casual, como a ministra explicou também sobre o tampo da mesa enfarruscada de grafite: a sua intenção foi escolher um poeta da nova geração - "uma mulher" - e, ainda que jovem, Andreia C. Faria já se destacara no panorama literário nacional ao vencer em 2017 o prémio da Sociedade Portuguesa de Autores para Melhor Livro de Poesia.

Os operários, por seu lado, declamaram obras de poetas homenageados na edição deste ano do festival "Poesia à Mesa", que são Adília Lopes, Almeida Garrett, Ana Paula Inácio, Carlos Tê, Ondjaki e Sidónio Muralha.

Quanto ao cruzamento entre equipamento fabril, material de escrita e criação artística, Graça Fonseca defendeu que as próprias circunstâncias da iniciativa desta manhã têm, elas mesmas, um potencial literário que deve ser prosseguido.

"Em fábricas como a Viarco, o património cultural e industrial não deixa de ser um poema escrito ao longo de muitos anos e de muitas gerações. Queremos que esse património continue no futuro a fazer da fábrica um poema vivo", concluiu.

AYC // MAG

Lusa/Fim

+ notícias: Política

“Não há condições políticas” para regresso do Serviço Militar Obrigatório, garante ministro da Defesa

O ministro da Defesa Nacional admitiu que “hoje não há condições políticas” para voltar a impor o Serviço Militar Obrigatório (SMO), sugerindo que os jovens que optem pelas Forças Armadas tenham melhores condições de entrada na universidade ou função pública.

"Acabarei por ser inocentado", diz Galamba sobre caso Influencer

O ex-ministro das Infraestruturas, João Galamba, disse esta sexta-feira que acredita que vai ser inocentado no processo Influencer e discorda que a Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, deva prestar esclarecimentos no Parlamento.

Governo responde a Marcelo. "Não está em causa nenhum processo" para reparação do passado colonial

O Governo afirmou este sábado que “não esteve e não está em causa nenhum processo ou programa de ações específicas com o propósito” de reparação pelo passado colonial português e defendeu que se pautará “pela mesma linha” de executivos anteriores.