Presidente da ACP lamenta incapacidade política para resolver ala pediátrica do S. João
Porto Canal com Lusa
O presidente da Associação Comercial do Porto (ACP) disse hoje à Lusa que o atraso da construção da ala pediátrica do hospital São João demonstra "incapacidade do poder político", lançando a ideia de se avançar com uma parceria público-privada.
Dizendo ver a situação com "grande preocupação", Nuno Botelho afirmou custar-lhe viver num país onde um assunto que merece "tanto consenso" não conseguir passar das "palavras aos atos".
"Bastou ouvir ontem [terça-feira] as declarações da senhora ministra da Saúde para perceber que ela própria percebe a importância da ala pediátrica", frisou.
A ministra da Saúde afirmou na terça-feira no parlamento que não dormirá tranquila enquanto o problema da nova ala pediátrica do hospital de São João não estiver resolvido, mas não se comprometeu com datas e rejeitou a possibilidade de um ajuste direto para a obra.
Segundo Nuno Botelho, com o "arrastar" desta situação perdem-se "anos, vidas e dignidade", sendo este um "exemplo claro" de como não deve atuar o Estado e o poder político.
"No país da Web Summit onde tudo parece extraordinário temos isto à frente dos nossos olhos, devíamos todos enchermo-nos de vergonha e assumirmos esta questão como prioritária que urge resolver", vincou.
O presidente da associação comercial questionou como é que Portugal vive uma "situação de terceiro mundo" quando se assume como um país civilizado e de pleno direito na União Europeia.
Não percebendo como não se chega a um entendimento sobre esta matéria, Nuno Botelho frisou que esta é uma "causa" que deve unir todos, contar com o apoio de todos e envolver todos porque ninguém pode ficar insensível a isto.
Perante o impasse na obra, Nuno Botelho lançou a ideia de se avançar com uma parceria público-privada, lembrando que no ranking dos hospitais divulgado esta semana os três primeiros são parcerias público-privadas.
"Infelizmente, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) como está deveria repensar e, se não tem capacidade para lançar a obra, se calhar é mais fácil enveredar por uma parceria público-privada, lanço o mote", frisou.
As imagens das condições em que são tratadas as crianças com doença oncológica "chocam qualquer cidadão", seja ele do Norte, Centro ou Sul, salientou, acrescentando que esta é uma "questão nacional" onde é posta em causa a dignidade das crianças.
A Câmara do Porto mostrou-se hoje "disponível para apoiar o projeto da Associação Joãozinho" para "continuar as obras" da ala pediátrica, resolvendo "o que o Estado não tem conseguido", revelou o presidente da autarquia.
Em janeiro de 2017, o Ministério da Saúde aprovou a construção da ala pediátrica, anunciando um investimento de cerca de 20 milhões de euros.
O Governo autorizou a 19 de setembro a administração do Centro Hospitalar Universitário de São João a lançar o concurso para a conceção e construção das novas instalações do Centro Pediátrico.