Perceber a imigração através da dança do coreógrafo Salia Sanou hoje no Rivoli

| Norte
Porto Canal com Lusa

Porto, 08 jun (Lusa) -- O espetáculo "Du désir d'horizons", criado pelo coreógrafo do Burquina Faso Salia Sanou, a partir de um trabalho de anos sobre imigração, em campos de refugiados, é apresentado hoje, em estreia nacional, no Teatro Municipal Rivoli, no Porto.

Sanou trabalhou em vários campos de refugiados no norte do Burquina Faso e no Burundi, ao longo dos últimos três anos, onde realizou uma série de oficinas e ateliês de dança, financiados pela African Artists for Development, através dos quais começou "a desenvolver o processo educativo, criativo e a própria ideia do espetáculo", explicou à Lusa, numa conversa com tradução direta de Bryan Morgado, produtor do Teatro Municipal do Porto.

"Queria muito lá ir e estar com as pessoas no campo, porque aquele espaço é como se fosse uma prisão, onde as pessoas estão isoladas e fechadas. (...) Como bailarino e coreógrafo, fui à procura de partilha, solidariedade e fraternidade, e foi isso que me motivou e deu ideias", acrescentou o coreógrafo à Lusa.

"Du Désir d'horizons", francês para "Do desejo de horizontes", estreou-se em junho de 2016 no Teatro Nacional de Chaillot, em Paris, e desde então tem sido apresentado em vários países na Europa e em África, com o artista natural de Léguéma, onde nasceu em 1960, a destacar "a surpresa e, depois, a curiosidade", como a reação mais comum.

"Naqueles campos, o horizonte é apagado, desaparece, é inexistente, e precisas de uma força interior para ver mais além e imaginar esse horizonte, imaginar a vida após o campo de refugiados", disse à Lusa, apontando para estudos das Nações Unidas, que mostram que a duração de vida, nestas condições, pode ser de "até 17 anos".

Face a certos preconceitos e expectativas formadas sobre uma companhia e um criador africano, a plateia é confrontada "com outra realidade", sendo que o importante, para Sanou, é "fazer chegar uma mensagem, porque é apenas uma minoria a que sabe e percebe as questões da imigração, dos campos de refugiados e das guerras".

Passar "17 anos num espaço muito violento, sem humanidade ou acesso aos direitos devidos é muito difícil", o que leva a "um trabalho ainda mais complexo" para encontrar "força, e esperança, e vem daí o desejo de horizontes e de pesquisa interior", depois de encontrar "uma coisa muito militar, rigorosa e estrita", nos campos das Nações Unidas, nos quais as pessoas, que saíam "da miséria e da guerra", perdiam também "uma parte da sua humanidade".

A introdução do seu trabalho, acredita, "dá uma nova perspetiva às pessoas, tanto física como mental". "A arte trouxe a humanidade que faltava naqueles campos", afirmou.

Também por isso, o objetivo nunca foi criar "um trabalho documental, não interessava mostrar a miséria dos campos, essa história é conhecida", mas antes "uma história mais poética, para mostrar ao resto do mundo que, mesmo estando ali, ainda se consegue ter esperança, ser humano, e que se é tão humano e tão pessoa como o vizinho".

A peça enquadra-se ainda no trabalho de várias décadas que Salia Sanou tem desenvolvido sobre o conceito de fronteiras e barreiras, físicas ou não, entre as pessoas, como se relacionam e "como se rejeita ou aceita o Outro, e o próprio".

"Quem vier ver o espetáculo, vai poder ver o estado atual do mundo, no sentido em que vão ver corpos, a interagir uns com os outros, a recusarem-se uns aos outros, em diálogo, a aceitarem-se uns aos outros", resumiu.

Em termos estéticos, o espetáculo não se restringe a uma ideia mais coreografada, mantendo uma abordagem "mais livre" para mostrarem "o estado do Corpo, de um corpo", e como se interage num mesmo espaço.

Para o público, é uma oportunidade para confrontar a forma como a comunicação social retrata "alguém que ouviu um atentado mesmo ao lado", e alguém que o tenha presenciado, por exemplo, apresentando as mudanças que provoca ao nível físico e de ocupação do espaço.

Salia Sanou, coreógrafo que fez parte, enquanto bailarino, da companhia de dança de Mathilde Monnier, apresenta em Portugal "Du désir d'horizons", partindo de um trabalho que utilizou a dança como apoio psicológico para refugiados, e cresceu para uma peça interpretada por "seis bailarinos, um contador de histórias e dois jovens refugiados africanos".

"Du désir d'horizons" estreia-se em Portugal pelas 21:30 de hoje, no grande auditório do Rivoli, com a coreografia de Salia Sanou interpretada por Valentine Carette, Ousséni Dabaré, Catherine Denecy, Jérôme Kaboré, Elithia Rabenjamina, Mickael Nana, Marius Sawadogo e Asha Imani Thomas.

SIYF // MAG

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