Portugal enfrenta hoje secas mais frequentes e prolongadas
Porto Canal com Lusa
As secas tornaram-se mais frequentes e prolongadas em Portugal, acompanhando a diminuição da precipitação média anual, que afeta sobretudo o sul, referiu o especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos, alertando para a necessidade de investir nas energias renováveis.
Em declarações à Lusa, o professor jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável explicou que um fenómeno meteorológico isolado, por si só, não define um clima – para isso é necessário fazer observações durante 30 anos e depois comparar com o período anterior, vendo se nas médias e nos extremos das várias variáveis meteorológicas houve uma mudança significativa.
Quando se comparam os dois períodos de 30 anos anteriores ao presente (desde 1960), verifica-se que a precipitação média anual tem diminuído na Península Ibérica e também noutras áreas do Mediterrâneo.
“No caso de Portugal a diminuição é da ordem dos 40 milímetros por década e isso é um número significativo, ou seja, 200 milímetros de chuva em meio século, cerca de 20 centímetros de água”, indicou o professor.
Os números têm particular peso no sul: no interior do Alentejo a precipitação média anual era, antes desta redução, de 500 milímetros.
“Não é a questão de uma seca. Nestes 60 anos, comparando quantas secas mais é que houve em relação ao período anterior, verifica-se que tem havido mais secas e mais prolongadas”, referiu Filipe Duarte Santos.
A atual seca registada em Portugal, indicou, é provavelmente “das piores dos últimos 100 anos” e uma das mais intensas e prolongadas: “Uma seca destas na Idade Média seria dramática, o país estaria numa profunda crise de fome”.
O especialista lembrou que para reagir às alterações climáticas é necessário, em Portugal e no resto do mundo, "depender muito menos de combustíveis fósseis" (petróleo, carvão e gás natural), porque a sua combustão é um dos principais fatores dessas mudanças, e “investir nas energias renováveis”, o que tem um custo inicial, depois compensado.
Em suma, apontou, é necessário “desenvolver uma economia de baixo carbono”, com decisores políticos bem informados, cientistas empenhados em alertar para os problemas e um compromisso sério no cumprimento de medidas como as que vigoram no Acordo de Paris.
“A razão destas alterações climáticas tem a ver com a intensificação do chamado efeito de estufa da atmosfera, com o facto de na atmosfera existirem gases que absorvem a radiação infravermelha, são como se fossem um cobertor na atmosfera e garantem que a temperatura é suficientemente elevada”, mencionou.
A presença e concentração de dióxido de carbono aumentou cerca de 43% desde o período pré-industrial (há cerca de 250 anos), o que, no entender do especialista, é um grande alargamento para um período de tempo relativamente curto, à escala das transformações que houve no planeta.
No caso da Europa, os países do sul são mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas devido à tendência da diminuição da precipitação.
“Há condições para nos adaptarmos”, ressalvou, contudo, Filipe Duarte Santos, referindo também que, em Portugal, a região menos vulnerável são os Açores e, depois, a Madeira, onde a diminuição da precipitação deverá ser mais significativa.
O especialista lembrou ainda a tendência de subida do nível médio do mar, que irá agravar a já significativa erosão costeira, em particular no território continental.