"As raposas", uma peça sobre finança e jogos de poder, no Teatro Nacional de S. João
Porto Canal com Lusa
Porto, 03 mar (Lusa) -- A peça "As raposas", de Lillian Hellman, que deixa entrever mecanismos dos jogos de poder, segundo o encenador João Lourenço, inicia hoje uma nova temporada de representações, no Teatro Nacional de S. João, no Porto.
"O discurso político está dominado por códigos económicos e não se sabe o que está por trás. Esta peça, centrada numa família de grandes proprietários ligados à banca, que é um microcosmos da nossa sociedade, deixa-nos entrever os jogos de poder e o que se passa atrás dessa linguagem cifrada dos números, que afeta brutalmente a nossa vida quotidiana", disse o encenador João Lourenço, à Lusa, quando da estreia da obra, em junho do ano passado, no Teatro Aberto, em Lisboa.
A peça aborda o universo de uma família muito rica, que quer aumentar o seu capital, e foi escrita por Lillian Hellman, em 1939, uma década após a crise financeira que deu origem à Grande Depressão.
O sucesso na Broadway e a objetividade do drama levaram à adaptação ao cinema, por William Wyler, com Bette Davis, como protagonista, no filme "The litle foxes" (1941), que se estreou em Portugal com a designação "Raposa matreira".
Em 1966, já com o título "As raposas", a peça subiu ao palco do Teatro Villaret, em Lisboa, numa encenação de Rogério Paulo, com Maria Lalande, como protagonista, acompanhada de Eunice Muñoz e de João Perry, ator que regressou à nova encenação.
Com dramaturgia de Vera San Payo de Lemos e João Lourenço, que também assina a encenação, a peça "As raposas" conta com desempenhos de Diana Nicolau, Eurico Lopes, Gracinda Nave, João Perry, Luísa Cruz, Marco Delgado, Pedro Caeiro, Sofia Cabrita, Virgílio Castelo e fica em cena no Teatro Nacional de S. João até ao próximo dia 13.
"An Unfinished Woman", "The children's hour", "Toys in the attic" são outras obras da escritora norte-americana Lillian Hellman (1905-1984), que se destacou em particular como argumentista e dramaturga, mas que também foi crítica literária do jornal New York Herald Tribune.
O seu primeiro drama, "The children's hour", estreou-se na Broadway, em 1934, e foi um dos sucessos desse ano. A peça baseia-se num caso verídico, ocorrido na Escócia, através do qual a dramaturga desafia preconceitos de época sobre a infância e a sexualidade. A obra daria origem ao filme de Wyler "A infame mentira".
A ascensão nazi, na Alemanha, que a autora testemunhou diretamente, inspirou alguns dos seus dramas e textos autobiográficos, como "Pentimento", na base do filme "Júlia", de Fred Zinnemann, um dos vencedores dos Óscares de 1977, com Jane Fonda, Vanessa Redgrave e Jason Robards.
No final da década de 1940, Hellmann foi chamada a depor no âmbito do Comité sobre Atividades Anti-Americanas.
É a autora do libreto da ópera "Candide", de Leonard Bernstein.
"Talvez", texto autobiográfico, na qual perpassa a relação com o marido, o escritor Dashiell Hammet, autor de "A chave de vidro" e "O homem transparente", é a única obra da escritora editada no mercado livreiro português.
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