Estudantes querem "derrubar" a estátua de Cecil Rhodes em Oxford

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Porto Canal com Lusa

Oxford, 30 dez (Lusa) -- O legado colonial britânico em África está a provocar acesa polémica no Reino Unido envolvendo uma universidade de Oxford por causa de uma estátua de Cecil Rhodes no centro da cidade.

O debate que provocou uma campanha liderada por estudantes e que está a provocar polémica na imprensa centra-se na estátua de Cecil Rhodes, fundador da antiga colónia da Rodésia (Zimbabué), que se encontra no centro da cidade, em Oxford High Street.

Cecil Rhodes (1853-1902), cujo apelido deu origem ao nome da antiga colónia da Rodésia, atual Zimbabué (desde a independência em 1980), foi também fundador da empresa diamantífera De Beers.

"Colocar alguém assim, desta forma tão permissiva, num pedestal é tolerar de forma tácita o seu legado", disse à France Press Daisy Chandley, estudante de Oxford e membro da campanha "Rhodes Tem de Cair" ("Rhodes Must Fall").

Manchada pela poluição dos automóveis a estátua de Rhodes encontra-se rodeada de pináculos e está instalada no coração da cidade universitária britânica.

O monumento tem uma inscrição de homenagem a Cecil Rhodes - apontado pelos estudantes como um racista branco, tal como outros fundadores do império britânico -- pelas doações que fez à universidade Oriel College de Oxford, no século XIX.

Entretanto, inspirada pelo movimento que pede a remoção da estátua, a Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul pediu ao Oriel College para aderir à campanha.

As ações dos estudantes de Oxford e da universidade sul-africana são diferentes mas usam os mesmos suportes nas redes sociais sendo que o debate sobre a estátua, segundo a France Press, está "cada vez mais aceso" pela crescente troca de opiniões acerca do assunto no Reino Unido e na África do Sul.

"Houve sempre quem contestasse a manutenção da estátua no local assim como atos de racismo na universidade, mas o movimento na África do Sul provocou o debate sobre problemas semelhantes em Oxford e ajudou a colocar o assunto em primeiro plano, desencadeando uma campanha aqui no Reino Unido", explicou Chandley à AFP.

O Oriel College, que rejeita as acusações de racismo, prometeu ser "mais plural e inclusivo para com as pessoas de todas as proveniências", referiu a instituição no início de dezembro.

O Oriel garantiu também que iria retirar uma placa sobre Cecil Rhodes que se encontra colocada num edifício da universidade e concordou em "acompanhar o debate durante seis meses" sobre a remoção da estátua antes de tomar qualquer decisão.

Segundo o Oriel, os valores de Rhodes "contrastam em absoluto com o programa atual da instituição, assim como com os valores da universidade moderna".

Nesse sentido, o Oriel College anunciou mesmo que vai mandar colocar junto à estátua uma inscrição esclarecendo que a universidade "não tolera nem glorifica" as ações e as ideias de Cecil Rhodes.

Na mesma altura, a instituição de ensino recordou que as bolsas com o nome do fundador da Rodésia (Rhodes Scholarships) já ajudaram cerca de oito mil alunos de todo o mundo a estudar em Oxford, incluindo o antigo Presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e o ex-primeiro-ministro australiano Tony Abbott.

Um dos organizadores da campanha, o sul-africano Ntokozo Qwabe, foi nomeado para uma bolsa com o nome de Cecil Rhodes em 2014 e, por isso, acusado de hipocrisia por ter afirmado que aceitou a ajuda universitária (Rhodes Scholarship) para fazer retornar algum dinheiro que Rhodes roubou em África.

"Eu não sou um benificiário de Cecil Rhodes. Sou um benificiário dos recursos e do trabalho do meu povo que foi pilhado e escravizado por Rhodes", escreveu o académico sul-africano na rede social Facebook.

Académicos, políticos e ex-alunos de Oxford juntaram-se à polémica debatendo de forma calorosa "os erros e as virtudes" de um homem que "foi um dos principais motores" da expansão territorial britânica na África Austral e uma figura relevante na guerra dos Boers, entre o exército britânico e os colonos de origem holandesa, na África do Sul, no final do século XIX.

Um dos apoiantes da manutenção do monumento comparou os membros da campanha que quer derrubar a estátua com o Estado Islâmico, numa referência à destruição de monumentos históricos na Síria e no Iraque pelo grupo extremista islâmico.

Entretanto, numa carta publicada no jornal Times, Frederick de Klerk, antigo chefe de Estado da África do Sul e que partilhou o Prémio Nobel da Paz com o líder do Congresso Nacional Africano, Nelson Mandela, considerou a campanha contra a estátua como "loucura".

"Se as normas politicamente corretas fossem aplicadas de forma permanente, muitas das grandes figuras de Oxford teriam de ser escrutinadas", escreveu ainda de Klerk, um dos homens determinantes para o fim da segregação racial na África do Sul.

As declarações de de Klerk já provocaram uma reação do Economic Freedom Fighters, um partido de esquerda sul-africano, que expressou "desgosto" pelo texto publicado no Times pedindo mesmo ao antigo chefe de Estado para reconsiderar as afirmações sobre o assunto.

"Todas as estátuas coloniais e símbolos do apartheid devem cair, não apenas aqui na África do Sul, mas também em todo o mundo", disse o partido político através de comunicado.

PSP // PJA

Lusa/fim

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