Syriza considera acordo "um golpe contra a nação"

Syriza considera acordo "um golpe contra a nação"
| Economia
Porto Canal (MPM)

Grande parte do partido do Governo grego insurgiu-se contra as medidas acordadas em Bruxelas. Tsipras conseguirá a aprovação em parlamento, mas não sem perder força dentro do Syriza. A Comissão Europeia propôs que o 'financiamento-ponte' de emergência à Grécia, seja garantido por todos os países da UE, através do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira.

A maioria dos membros do comité central do Syriza, partido do Governo grego, assinaram esta quarta-feira uma declaração, onde são tecidas duras críticas ao acordo alcançado em Bruxelas com a zona euro. O acordo é classificado como "o resultado de ameaças de imediata estrangulação financeira" , e "destrutivo" para o país e para o povo grego.

Apenas 15 dos 109 elementos (em 201) que subscreveram o documento têm lugar parlamentar, o que provavelmente não se irá traduzir em quaisquer problemas para Tsipras conseguir a aprovação do acordo, graças aos partidos da oposição, apesar de se prever que vários deputados do Syriza, mesmo não tendo assinado a declaração, votem contra as medidas. A posição do primeiro-ministro no seu partido está, desta forma, claramente enfraquecida. O partido que faz coligação com o Syriza, o ANEL, anunciou que rejeita o acordo mas mantém o apoio ao Governo.

Para esta quinta-feira de manhã está agendada uma reunião do Eurogrupo, onde os ministros das Finanças da zona euro irão analisar se as propostas foram devidamente aprovadas no parlamento grego. O financiamento-ponte de sete mil milhões de euros, que deverá ser atribuído pelo Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (EFSM) será também discutido.

Debate grego

Yanis Varoufakis, que abandonou o cargo de ministro das Finanças após o referendo grego, aproveitou o debate da manhã desta quarta-feira para atacar o acordo alcançado em Bruxelas. O deputado comparou o entendimento ao Tratado de Versalhes. Esse histórico documento, assinado no final da Primeira Guerra Mundial, representou uma humilhação para a Alemanha, que foi obrigada a reconhecer a responsabilidade no conflito e a pagar elevados montantes de reparações financeiras à Tríplice Entente - nome dado à aliança formada pelo Reino Unido, França e Império russo.

O ex-ministro afirma que tudo depende da reestruturação da dívida, mas "infelizmente", esta só acontecerá quando falhar o terceiro programa de resgate.

Nadia Valavani e Manos Manousakis, ambos do Ministério das Finanças, abandonaram esta quarta-feira os cargos no Governo, por se sentirem contra o acordo conseguido para o resgate.

Comissão Europeia quer países fora da zona euro a contribuir

O executivo-comunitário de Bruxelas propôs que, ao invés de serem apenas os 19 países da zona euro a contribuir, todos os 28 estados-membro da União Europeia devessem participar, recorrendo ao Mecanismo Europeu de Emergência Financeira para garantir o 'fianciamento-ponte', na ordem dos sete mil milhões de euros, necessário para a Grécia efectuar os pagamentos mais urgentes.

Vladis Dombrovskis, comissário do euro, disse em conferência de imprensa que tem consciência das reservas dos países da zona euro face a esta solução, mas que entre "as poucas opções disponíveis", o recurso ao Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira é "a mais realista". "Como sabem, a economia grega está de novo em recessão, o sistema bancário está à beira do colapso e o Estado grego tem pagamentos em atraso". Já no próximo dia 20 de Julho a Grécia tem de efectuar o pagamento de 3.5 mil milhões ao Banco Central Europeu.

Reino Unido, a voz da contestação

O ministro das Finanças britânico George Osborne, reiterou esta terça-feira que o apoio financeiro à Grécia deveria ser assegurado apenas pelos países da zona euro. Aliás, em 2011, o primeiro-ministro britânico tinha obtido a garantia de que o EFSM não seria utilizado em casos de resgate.

Um documento da União Europeia, citado pela agência Reuters, confirma a notícia que havia sido lançada pelo Financial Times. O Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira financiaria o período de transição grega antes do resgate, com devolução dos fundos prometida ao fim de três meses. Desta forma, os contribuintes da UE não perderiam o montante, salvo se a operação do terceiro resgato falhasse, o que poderia acontecer graças a uma eventual desistência do FMI.

O FMI, através de um documento confidencial que entretanto foi tornado público, afirma que a Grécia necessita de um corte na dívida pública, porque esta se tornou insustentável. Caso tal não aconteça, o Fundo Monetário Internacional ameaça ficar fora do resgate. A atitude recebeu os elogios do do ministro das Finanças francês. "O FMI está a dizer o mesmo que nós dizemos. Não podemos ajudar a Grécia se mantivermos o mesmo fardo de reembolso da dívida sobre a economia grega", explicou Michel Sapin à francesa BFM TV.

David Cameron corrobora a ideia do FMI : "O princípio de que deve haver alívio da dívida está correto. É do interesse do Reino Unido que a zona euro decida como se irá conduzir. Eles têm de resolver estas questões, e rapidamente", sublinhou o primeiro-ministro britânico.

'Grexit' ainda é discutido

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, mantém a opinião de que uma saída temporária da Grécia da zona euro, seria a única hipótese de Salvar Atenas. Na noite desta terça-feira, à saída da reunião dos ministros das Finanças em Bruxelas, Schäuble reiterou a sua crença nas vantagens do 'Grexit', e garantiu que a sua ideia é partilhada por outros membros do Governo de Berlim. "Há muita gente, também no governo alemão, que está plenamente convencida de que no interesse da Grécia e do povo grego a saída do euro seria a melhor opção", sublinhou o ministro.

Apesar da afirmação de Schäuble, é crido que o ministro das Finanças está cada vez mais sozinho no governo. O vice-presidente do SPD, partido da coligação alemã no poder, disse ao Der Spiegel que "Merkel tem de chamar Schäuble à razão".

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