Numa década desceu mais de metade o número de produtores de maronês

| Economia
Porto Canal / Agências

Ribeira de Pena, 19 ago (Lusa) -- Numa década as famílias que se dedicam à produção de gado maronês diminuíram das cerca de 3.000 para as 1.300, mas o envelhecimento e as novas obrigações fiscais poderão contribuir para um maior abandono da atividade.

Nas serras do Alvão e Marão há ainda muitas aldeias de produtores. É o caso de Limões, concelho de Ribeira de Pena. Em quase todas as casas há pelo menos uma vaca.

Maria Augusta acorda cedo todos os dias para levar as duas vacas para o pasto. Já teve mais, agora as duas vão dando para ajudar a pagar as contas em casa, mas apenas por causa do subsídio.

"A gente para as manter tem que comprar o feno e tudo. Se não viesse o subsídio não dava para nada", afirmou à agência Lusa.

Maria Lúcia tem mais animais, sete vacas e três vitelos, mas a rotina é idêntica. Há que levantar cedo todos os animais para limpar a corte e levar os animais para o lameiro. "Isto dá muita despesa e muito trabalho, pouco ajuda a pagar as contas lá de casa", frisou.

Desde pequeno que José Ribeiro é criador de raça maronesa. Possui um efetivo de 35 animais e é o subsídio que recebe que ajuda a que a atividade compense. "Porque a perda de venda foi muito grande. Há 20 anos vendia-mos o quilo da carne ao mesmo preço que vendemos hoje", salientou.

E, enquanto isso, os custos de produção "aumentaram quatro, cinco ou seis anos".

Mas, segundo José Ribeiro, a vida dos produtores está "cada vez mais complicada". É que ao envelhecimento de grande parte dos agricultores junta-se agora outra dificuldade: as novas obrigações fiscais.

"Eu já estava coletado nas Finanças, mas senti um agravamento. Estou a pagar cerca de 240 euros por mês, é muito dinheiro", salientou.

O agricultor referiu ainda que "ainda há pessoas que têm resistido" na atividade, mas acrescentou que, com as novas regras, "muitos vão abandonar". "Quem tem dois, três ou quatro animais não consegue pagar às Finanças e à Segurança Social porque não tem rentabilidade para isso", frisou.

Maria Augusta vende mais ou menos um vitelo por ano, o que lhe rende cerca de 500 euros. Mas até isso pode estar em causa devido à obrigação de se coletar.

Virgílio Alves, do Agrupamento de Produtores de Carne Maronesa, com sede em Vila Real, salientou o impacto que as novas regras possui na vida dos agricultores. "Isto são burocracias que não têm nenhuma justificação para existir, bem pelo contrário. Estão a por em causa a atividade de muitos produtores", afirmou.

Com o principal nicho de mercado da carne maronesa a ser afetado pela crise, a classe média, os produtores procuram agora deslocar o consumo para um segmento mais elevado e que pode pagar melhor.

Cerca de 60% deste produto é consumido na região. "E é aqui que reside o nosso grande objetivo e estratégia que é fazer deste, um produto âncora do nosso turismo gastronómico".

O responsável referiu ainda que há uma década eram mais de 3.000 as famílias que se dedicavam à produção de carne maronesa. Atualmente são 1.300.

Porque se trata de uma atividade que é "naturalmente de baixo rendimento", Virgílio Alves defendeu que ela "tem muito interesse" como um complemento de um outro trabalho ou para quem já é reformado.

PLI // MSP

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