Publicados livros que classificam arquitecto francês Le Corbusier como fascista

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Porto Canal / Agências

Paris, 10 abr (Lusa) -- A imagem de Le Corbusier, grande arquiteto francês do século XX, é denegrida por vários livros sobre a sua "militância fascista", publicados antes de uma exposição em Paris, pelo 50.º aniversário da sua morte.

"Simplesmente, descobri que ele era um militante fascista", disse à agência de notícias francesa, AFP, Xavier de Jarcy, autor de "Le Corbusier, um fascismo francês".

Le Corbusier "militou durante 20 anos em grupos cuja ideologia era muito clara", confirma François Chaslin, que publicou "Um Corbusier", acrescentando que "isso foi escondido".

As investigações destes autores foram elogiadas por Marc Perelman, autor de "Le Corbusier, uma fria visão do mundo", que desde 1979 pesquisava sobre "as ideias fascizantes" do arquiteto.

"Já não estou sozinho", exclamou.

Nascido em 1887 em La Chaux-de-Fonds, na Suíça, e depois naturalizado francês, Charles-Edouard Jeanneret, conhecido como Le Corbusier, é um dos principais representantes do movimento modernista, juntamente com Ludwig Mies van der Rohe e Alvar Aalto.

Os novos livros mostram que o arquiteto frequentou, desde os anos 1920, círculos fascistas em Paris.

Tornou-se próximo de Pierre Winter, líder do Partido Fascista Revolucionário, com quem criou a revista "Plans", e do engenheiro François de Pierrefeu, com quem lançaria o jornal "Prélude".

Na 'Plans' justifica o antissemitismo nazi, e assina em parceria os "editoriais viciosos do 'Prélude'", sublinha Xavier de Jarcy.

Em agosto de 1940, Le Corbusier escreve à mãe: "O dinheiro, os judeus (em parte responsáveis), a maçonaria, tudo se submeterá à lei justa".

Em outubro, acrescenta: "Hitler pode coroar a sua vida com uma obra grandiosa: o desenvolvimento da Europa".

Também existem "esboços antissemitas", lamenta François Chaslin.

No seu site da internet, a Fundação Le Corbusier só dedica algumas palavras a este período: "1929: colaboração na revista Plans", "1933: membro do jornal Prélude", "1941: Estada prolongada em Vichy".

Ora, Le Corbusier "esteve em Vichy (sede do governo colaboracionista francês durante a ocupação nazi) durante 18 meses e ocupava um gabinete do Estado", precisa François Chaslin.

De regresso a Paris, tornou-se, até abril de 1944, conselheiro do teórico da eugenia Alexis Carrel, que tinha sido encarregado de uma missão científica pelo marechal Pétain.

A exposição "Medidas do Homem", patente no centro Pompidou, em Paris, entre 29 de abril e 03 de agosto, não faz qualquer alusão a estas obras recém-publicadas "porque não trata o conjunto da obra de Le Corbusier", explicaram os organizadores.

As suas relações com o regime colaboracionista de Vichy sob a ocupação alemã foram tratados numa retrospetiva em 1987, indicaram.

Por sua vez, um membro do Comité de Especialistas da Fundação Le Corbusier, Jean-Louis Cohen, declarou-se "chocado com esta polémica".

Inquirido pela AFP, o caçador de nazis Serge Klarsfeld, presidente da associação Filhos e Filhas de Deportados Judeus de França, considerou que a exposição no centro Pompidou deveria mostrar "todas as facetas da personalidade de Le Corbusier".

Os livros agora editados lançam também uma luz crua sobre o seu urbanismo, em que se inclui o "Plan Voisin", que propunha em 1925 arrasar o centro histórico de Paris.

"Dissociamos as suas ideias, o seu urbanismo e a sua arquitetura, quando são uma e a mesma coisa", observou Marc Perelman.

ANC // JMR

Lusa/fim

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