Gravura é a cooperativa que nasceu numa garagem e levou a arte moderna a todo o país

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Porto Canal / Agências

Lisboa, 23 jan (Lusa) - A cooperativa Gravura, por onde passaram dezenas de artistas, ao longo de mais de meio século, foi uma das principais divulgadoras da arte moderna em Portugal, responsável pela expansão do colecionismo no país.

Numa garagem improvisada em Algés, em 1956, teve início a história desta cooperativa, criada para a prática da gravura por artistas e intelectuais, motivados pelo espírito da partilha artística, experimentação e debate político.

O proprietário da garagem era Manuel Antunes Torres, um dos sócios-fundadores da Gravura - Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses (SCGP), a par de artistas como Júlio Pomar, João Hogan, Alice Jorge, José Júlio dos Santos, Cipriano Dourado e Rogério Ribeiro.

Manuel Torres não era artista, mas apoiou a fundação da cooperativa e comprou centenas de primeiras obras a artistas que passaram pela Gravura, até 2004, ano em que se desvinculou da entidade.

Reuniu uma coleção ímpar no género, que depois decidiu vender, propondo a aquisição a vários museus, nomeadamente ao Museu do Neo-Neorealismo, em Vila Franca de Xira, devido à ligação de muitos dos sócios da Gravura àquele movimento artístico.

David Santos, atual diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, e antigo diretor do Museu do Neo-realismo, disse à Lusa que aquela coleção, que acabou por ser adquirida pela Fundação Caixa Geral de Depósitos (CGD) "é a mais representativa do que se fez em Portugal na gravura, na segunda metade do século XX".

"O trabalho feito na Gravura foi pioneiro e permitiu divulgar a arte moderna no país. Tornou as peças mais acessíveis, possibilitando que a arte chegasse aos lares de muitos portugueses", sublinhou o historiador.

David Santos e Delfim Sardo foram comissários de uma exposição patente há dois anos no Museu do Neo-Realismo, intitulada "A doce e ácida incisão - A Gravura em contexto (1956-2004)", e que espelha o valor da coleção reunida pelo engenheiro Manuel Torres.

"Apresentámos 120 obras das 664 que a CGD comprou. Foi um trabalho de grande ginástica fazer essa seleção", comentou, sobre a dificuldade de escolher entre centenas de obras de artistas hoje consagrados como Paula Rego, Menez, Carlos Botelho, Maria Keil, Almada Negreiros, Eduardo Nery, Nikias Skapinakis, Júlio Resende e Julião Sarmento, entre outros.

Na lista de artistas da Gravura contam-se nomes como os de Emília Nadal, Sá Nogueira, Vera Castro, Jorge Martins, Maria Gabriel, José de Guimarães, Júlio dos Reis Pereira, Querubim Lapa, Gil Teixeira Lopes, Malangatana, João Abel Manta, Leonel Moura, Carlos Calvet, Gracinda Candeias, Fernando Calhau, Jorge Barradas, Manuel Cargaleiro, António Charrua, António Sena, Hein Semke, entre muitos mais.

Soma dezenas e dezenas de nomes a lista de artistas relevantes que passaram pela Gravura, cooperativa que teve o auge de atividade, segundo o curador e historiador, nos anos 1950, 1960 e 1970.

David Santos sublinha que a Gravura foi "um motor do desenvolvimento da arte em Portugal, um reflexo dos anseios de sucessivas gerações de artistas", e "uma das experiências mais fecundas e determinantes de associação artística, na cultura visual portuguesa".

Na Gravura, artistas pioneiros começaram a ensinar técnicas de uma modalidade que ainda nem existia nas escolas de Belas-Artes de Lisboa e do Porto.

Isabel Corte-Real, conservadora da Coleção da CGD, recordou, em declarações à Lusa, que, na Gravura, "Paula Rego aprendeu a técnica com Bartolomeu Cid dos Santos", uma figura tutelar na área, a par de João Hogan.

A CGD convidou o Museu do Neo-Realismo a organizar uma exposição, publicou um catálogo "raisonné" - um catálogo com listagem descritiva e anotada, imagens e documentos de contextualização - das edições da cooperativa e promoveu uma investigação à história da Gravura, desenvolvida por André Silveira e Joana Brites.

"A investigação não passa pelo acervo que ficou na cooperativa. Fizemos vários contactos, mas infelizmente já não conseguimos aceder ao interior das atuais instalações, que estavam já seladas na altura", indicou Isabel Corte-Real, sobre a última morada da Gravura, na travessa do Sequeiro, em Lisboa, que foi alvo de uma ação de despejo.

AG // MAG

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