Cidadãos da Figueira da Foz elogiam "mudança de paradigma" na defesa da costa
Porto Canal / Agências
Figueira da Foz, Coimbra, 26 nov (Lusa) - O movimento de cidadãos SOS Cabedelo, da Figueira da Foz, aplaudiu hoje a "coragem" do Grupo de Trabalho do Litoral (GTL) em "mudar o paradigma" de defesa da costa portuguesa, centrando-o na alimentação das praias com areia.
"É um relatório de grande coragem. Muda o paradigma da defesa da costa. Até aqui, falava-se em paredões, agora fala-se em areia, fala-se na necessidade de abastecer as praias com areia e na manutenção da deriva litoral de sedimentos", disse à agência Lusa Miguel Figueira, do movimento SOS Cabedelo.
No caso específico da Figueira da Foz, o movimento de cidadãos tem vindo a defender que a areia depositada na praia, o maior areal urbano da Europa, possa servir para abastecer as praias a sul do Mondego ameaçadas pela erosão, através de um sistema de "bypass", constituído por uma central de bombagem e uma tubagem que permita passar a areia retida por ação do molhe norte do porto comercial.
A hipótese de utilização da areia da praia da Figueira da Foz para abastecer praias a sul do Mondego ameaçadas pela erosão está consignada no Sumário Executivo e Recomendações do relatório do Grupo de Trabalho do Litoral (GTL), criado pelo Governo para apontar soluções para os problemas da orla costeira, embora não seja especificada qual a solução a adotar.
No documento, o GTL recomenda que sejam adotados "processos ou sistemas de transposição sedimentar nas barras dos portos da Figueira da Foz e Aveiro" para as praias a sul, para contrariar a deposição de sedimentos em zonas adjacentes aos molhes portuários.
A solução foi hoje contestada pela autarquia da Figueira da Foz, nomeadamente devido ao volume de movimentação de areias - 10 milhões de metros cúbicos a seis anos - tendo a vereadora Ana Carvalho alegado que não está explicado o modo e local de retirada da areia.
A vereadora, que participou numa reunião com os investigadores do GTL e autarcas de municípios costeiros, na sexta-feira, sobre o relatório do grupo de trabalho, admite ainda que a retirada de areia poderá inviabilizar um projeto de ocupação do areal, apresentado em julho à tutela do ministério do Ambiente e que a Câmara Municipal quer ver aprovado.
Contesta, igualmente, que a praia da Figueira seja "transformada num estaleiro" e usada "como banco de areia", criticando ainda a solução preconizada pelo SOS Cabedelo, acusando o movimento de estar a ser "usado" pelo grupo de trabalho.
"Se nos estão a usar, temos muito orgulho nisso, reconhecemos competência técnica a um grupo de investigadores pluridisciplinares que aceitou sair de Lisboa e vir à Figueira da Foz ao encontro de cidadãos preocupados com o território", respondeu Miguel Figueira.
Sobre o sistema de "bypass", reafirmou acreditar que "é o melhor sistema e pode funcionar mesmo com grande agitação marítima", lembrando que o projeto foi premiado em 2011 no concurso nacional Movimento Milennium, promovido pelo jornal Expresso e BCP.
"A campanha chamava-se 'O Mar à Cidade', usar a areia do norte para proteger o sul. Se o relatório do GTL o diz, só nos podemos sentir orgulhosos e honrados com isso", afirmou Miguel Figueira.
JLS // SSS
Lusa/Fim