Portugal deve resistir às imposições da Alemanha -- Ex-conselheira de Kohl

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Porto Canal / Agências

Lisboa, 10 jul (Lusa) -- Portugal não pode "aceitar simplesmente" o que a Alemanha dita, deve resistir e pôr condições, porque a União Europeia nunca deixará que saia do euro, defendeu a autora de um livro muito crítico sobre Angela Merkel, Gertrud Hoehler.

Merkel move-se unicamente pelo poder, sem ideologia ou valores e com desprezo pela lei e pela própria democracia, defende Hoehler, antiga conselheira do ex-chanceler Helmut Kohl, no livro "Estratégia Merkel -- O projeto implacável da chanceler de ferro que põe em perigo a União Europeia".

Editado este mês em Portugal, o livro contém uma introdução à edição portuguesa, em que Hoehler, descrita pela Economist como "uma das celebridades intelectuais da Alemanha", escreve que o Sul da Europa é "o destino de Merkel", porque as vozes críticas da austeridade excessiva já se fazem ouvir em Berlim, enviando "sinais ainda tímidos" de que "o vento se está a virar a favor do Sul".

O livro, explicou a consultora política em entrevista à agência Lusa, destina-se a "todos aqueles que ainda têm os punhos nos bolsos", uma alusão aos que estão irritados mas não o manifestam.

"Portugal já demonstrou, com o seu Tribunal Constitucional, que não tolera tudo (...) A minha mensagem é que vale a pena resistir. Não podem viver como vassalos da Alemanha", disse, recuperando a referência que faz na introdução do livro à decisão do TC de rejeitar quatro medidas do Orçamento de Estado para 2013.

Em matéria económica, Portugal pode "decidir as suas condições", "pedir mais tempo" para pagar o empréstimo internacional e recusar "aceitar simplesmente as cartas que lhe dá a senhora Merkel" ou "tolerar medidas de austeridade que vão contra a identidade cultural".

"Podem estar tranquilos, a UE nunca deixará sair Portugal do euro porque, simplesmente, os outros países têm demasiado medo", afirmou.

Merkel "sobrepõe-se a todas as leis quando pensa que tem razões políticas para o fazer" e pretende, com a austeridade excessiva, "tornar esses países vassalos" do seu conceito europeu, assente exclusivamente na procura do poder.

Nas legislativas alemãs de setembro, Hoehler pensa que o partido de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), "será o partido mais forte", mas muito está ainda em aberto quanto a coligações, com os liberais do FDP ou os social-democratas do SPD.

"Mas há rumores de que Merkel não vai esperar até perder umas eleições para se demitir, porque provavelmente será criado, em 2014 ou 2015, um alto cargo na UE, um cargo que não existia antes e que permite passar por cima do Parlamento Europeu para certas decisões", afirmou.

Segundo a autora, "a estratégia do poder é o maior interesse da senhora Merkel, que já está a alinhar as suas tropas para vários cargos importantes que vão ter de ser preenchidos nos próximos anos", como o de secretário-geral da NATO ou presidente da Comissão Europeia.

MDR // PJA

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