Após polémica, classificação de Magnólia centenária no Porto vai mesmo avançar
Porto Canal
A intenção é proteger a Magnólia denudata escondida na Rua de São Vicente, em Ramalde, no Porto. O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas vai classificar como tendo interesse público a árvore com mais de 100 anos situada nas traseiras da casa da família do escritor Afonso Reis Cabral.
A informação é avançada, esta quarta-feira, pelo Jornal de Notícias (JN). “A classificação do exemplar foi requerida com base no porte majestoso, antiguidade, perfeito estado de conservação e grande beleza quando da floração, admitindo tratar-se do maior e mais antigo exemplar da espécie Magnolia denudata Desr., na cidade do Porto”, frisa em despacho, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
O regalo de infância de Afonso Reis Cabral
A magnólia centenária, originária da China, é um dos segredos mais bem guardados da cidade do Porto. A árvore cresce nas traseiras de um prédio localizado na Prelada, onde o escritor Afonso Reis Cabral passou a sua infância e juventude.
O autor portuense cresceu a olhar para a Magnólia que floresce a cada início do ano. Antes de se mudar para Lisboa, aos 18 anos, era pela janela de casa que contemplava a árvore “sublime”.
Em março de 2022, Afonso Reis Cabral candidatou a Magnólia à classificação pelo ICNF como árvore de interesse nacional. Com o apoio de alguns moradores, fez chegar o pedido ao Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta que teve o mesmo entendimento. A árvore cumpre todos os requisitos legais necessários à classificação devido à sua “raridade e beleza”.
A polémica surge depois. O ofício, enviado a todos os proprietários, foi rejeitado por uma das famílias que detinha os terrenos antes da construção do prédio e que hoje detém frações do prédio.
Contactada, em março de 2023, pelo Porto Canal, Manuela Couto Soares, um dos elementos da família que se opôs à ideia de classificação, justificava a decisão pelo facto de a magnólia “não correr nenhum risco” e de a proteção estar assegurada “com ou sem classificação”.
Afonso Reis Cabral, inconformado com a situação, criticou os coproprietários, donos de várias frações do prédio e da mesma família, sublinhando que a família “não demonstra qualquer amor pela árvore” e alerta para a localização da árvore deixar a magnólia “especialmente vulnerável”.
Fumo branco à vista
O ICNF decreta agora dar continuidade ao processo, adiantando que é sua “intenção” classificar a magnólia como tendo interesse público, por estarem “reunidos para o exemplar proposto” uma série de “parâmetros”, acrescentando que “o direito de propriedade não se sobrepõe ao interesse público”.
A Magnólia denudata deverá ter mais de 130 anos. Através de uma imagem aérea de 1939, foi possível verificar que a árvore já existia à altura e, “devido ao tamanho da copa há 84 anos”, é possível estimar a sua longevidade.
A cidade do Porto tem 280 árvores classificadas como arvoredo de interesse público mas nenhuma delas pertence à espécie Magnólia denudata.