“Estou aqui num cantinho do céu”. Elsa Claro é a única moradora de Aigra Velha há mais de 10 anos

“Estou aqui num cantinho do céu”. Elsa Claro é a única moradora de Aigra Velha há mais de 10 anos
| País
Fábio Lopes

Entre o céu e a terra, a 770 metros de altitude, é na aldeia de xisto mais alta do país que Elsa Claro desafia a solidão. É a única moradora de Aigra Velha, no concelho de Góis, há mais de uma década.

Ladeada pelas verdejantes e colossais montanhas da Serra da Lousã, a pastora de 62 anos, que tem no rosto os vincos da dureza de uma vida passada no campo, pastoreia as suas oito/nove cabras pelos vales e encostas, entre urze, carqueja e tojo.

Sossego é a palavra de ordem neste recanto do distrito de Coimbra, onde Elsa se sente verdadeiramente em casa. “Estamos aqui num cantinho do céu e à noite quase que se apanham as estrelas daqui”, conta-nos.

 
 
 
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Raízes até Aigra Velha

Elsa Claro nasceu e viveu em Cova do Lobo, na Lousã, até aos 22 anos, altura em que se instalou aqui, junto do seu marido, André Claro, após se casarem.
“Foi amor à primeira vista”, frisa a pastora, recordando com profunda saudade o companheiro, já falecido.

Quando André a pediu em casamento deu-lhe a escolher, entre Lisboa ou aquele local “mais próximo do céu”, de onde ele era natural. Entre a azáfama da cidade ou a paz da montanha, Elsa não hesitou…. Mas nem tudo foi um mar de rosas, admite.

“Quando vim para aqui custou-me um pouco. Ainda não havia luz e a estrada era toda em terra batida, caminhos de cabra. Compras e tudo tinha que se ir lá abaixo, tinha que se ir a pé e trazer tudo às costas. Para chegar aqui demorava mais de quatro horas”, diz.

Somente habitada por Elsa, atualmente, Aigra Velha nunca foi palco de grande alvoroço, porém a pequena aldeia já teve mais habitantes, todos da família do marido. Aos poucos, os sinais do tempo foram consumindo a povoação, até restar apenas esta única residente.

“Quando vim para cá tinha os meus sogros, tinha cá uma cunhada, tinha cá uma senhora ainda, ainda cá havia uns quatro ou cinco moradores. Mais tarde, acabaram por falecer, as minhas cunhadas, entretanto, também se foram embora. O meu marido também partiu, olha, fiquei só eu”, destaca, de semblante saudoso e algo pensativo.

Ainda assim, a valente pastora de 62 anos afirma, convictamente, que não se sente só, fazendo da natureza a sua melhor amiga.

“Tenho os animais, tenho os meus cães, tenho os passarinhos, tenho o cuco gosto tanto de ouvir o cuco a cantar. Não me sinto sozinha, não”, defende.

Não obstante, a amargura que carrega deve-se, em grande parte, ao último adeus forçado daqueles de quem mais gostava, nomeadamente a dor de ver partir André Claro há cerca de dez anos, “com tanto para dar”.

Eu passei muita fome. Éramos seis irmãs e sabe Deus o que a minha mãe passou para nos criar. Eu fiquei sem pai, tinha eu 11 anos, também morreu de cancro no pulmão. O meu marido morreu em agosto. Seis de agosto de 2011 e a minha mãe morre no mesmo ano, no dia de Nata”, relata Elsa, visivelmente emocionada.

“Eram as pessoas mais importantes que eu tinha na minha vida. Não foi fácil. Costuma dizer-se que a vida continua e sempre a olhar em frente, mas esquecer nunca se esquece”, realça a lousanense.

“Galinha de campo não quer capoeira”

Após o falecimento do marido, vítima de um cancro na cabeça, Elsa passou uns tempos em casa dos filhos, mas as saudades de Aigra Velha apertaram e voltou para “dar continuidade” ao legado do sogro e do marido. Aqui, os dias são dedicados à agricultura e à caprinocultura. Ao entardecer, produz também queijo, como forma de sustento.

No seu dia-a-dia atarefado, Elsa ainda tenta arranjar tempo para ir até à aldeia vizinha de Aigra Nova para “tomar um cafezinho e dar dois dedos de conversa” na Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã.

Aqui, no “vale encantado”, como o apelida, as “horas parecem dias e dias parecem anos, recordação é saudade, saudades são desenganos”, diz Elsa Claro. Mulher de alma quente, a pastora assegura que faria “tudo igual”. “Aigra Velha é a minha casa”.

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