Angélica André mostra-se “confiante e motivada” em vésperas da prova de uma vida. A partir das 7h30 do próximo sábado, nos Campeonatos do Mundo de natação, a atleta do FC Porto vai procurar qualificar-se para os Jogos Olímpicos de 2024 na “prova decisiva” dos 10 quilómetros águas abertas que terá lugar em Doha.

Na antecâmara da viagem para o Catar, a nadadora portista garante “atitude e compromisso” totais porque “experiência não falta” e a vontade de representar Portugal em Paris é muita. Depois de três semanas de estágio em altitude, José Manuel Borges elogia a preparação uma das “melhores nadadoras do mundo nas águas abertas” que “está em muito boas condições” para atacar o objetivo. “Nem sequer pensamos noutro cenário, estamos confiantes e acreditamos no melhor”, confidencia o treinador do FC Porto.

Angélica André
“O dia a dia durante o estágio na Serra Nevada era treinar, descansar e alimentar bem. Optámos por um regime de cinco treinos para cada folga e nem sei quantos treinos fiz durante aqueles 21 dias, talvez trinta e tal… sei que nadei 100 quilómetros por semana, 300 no total, e acho que o estágio correu bastante bem. Fizemos alguns controlos e os resultados foram bons, por isso sinto-me confiante e motivada para o que se avizinha. Só me qualifiquei uma vez para os Jogos, antes tinha tentado duas e falhado, desta vez espero usar mais a cabeça e guardar as emoções para os metros finais quando tiver de dar tudo por tudo. Os estágios aumentam a minha confiança e estabilidade emocional, percebo que estou a percorrer o caminho certo e estou preparada para enfrentar a prova. Experiência não me falta, posso garantir atitude e compromisso porque quero muito qualificar-me para os Jogos. Sábado é a prova decisiva, claro que o Mundial não são só os 10 quilómetros, também quero fazer boas provas nos cinco e na estafeta, mas o foco principal está mesmo nos 10. Uma nadadora de águas abertas tem que se adaptar a todas as condições e estou preparada para as que vou encontrar em Doha. Tento sempre concentrar-me ao máximo e não deixar que as minhas adversárias ganhem muita vantagem, sei que consigo andar na frente com elas e tento ficar sempre ali, dando o meu máximo, estando concentrada, fazendo bons abastecimentos e contornos das boias. No final procuro quem estiver menos cansado para poder acompanhar essa atleta. Com a experiência vamos percebendo estas coisas.”

José Manuel Borges, treinador de natação do FC Porto
“Foram três semanas de estágio em altitude com o objetivo de melhorar a capacidade aeróbia fundamental na distância que a Angélica nada. Na Serra Nevada tivemos todas as condições para trabalhar no ginásio, na alimentação, no descanso, na piscina e até no suporte médico. A Angélica já deve ter perto de 20 estágios em altitude, procuramos fazê-los quando possível, e dá sempre uma boa resposta a nível competitivo. Fizemos tudo o que estava previsto em termos de volume, de intensidade e as expetativas são que ela possa apresentar-se ao nível que temos visto. Infelizmente o apuramento para os Jogos Olímpicos decide-se numa única competição, num único dia e num único torneio de qualificação. Houve oportunidade no Mundial do ano passado, mas as três vagas foram logo ocupadas pelas atletas do pódio. São 21 lugares no total e já só sobram 18. Há vagas entregues por representação continental, uma por cada continente, e outra para o país organizador, portanto é um leque muito limitado.

O 16.º lugar será suficiente e sabemos que nos últimos dois anos a Angélica disputou nove competições de nível mundial (Taças e Campeonatos do Mundo), terminando sempre em lugar de qualificação para os Jogos. Mas isso de nada serviu, as nove provas em que terminou abaixo do 16.º lugar não tiveram interferência e só no próximo sábado, nos 10 quilómetros, é que será feita a seleção final. As águas abertas são uma disciplina com imensas variáveis: pode ser mar ou rio, a água pode estar quente ou fria, pode haver ondulação ou não… é muito difícil prever, mas acredito muito que a Angélica está entre as melhores nadadoras do mundo nas águas abertas. Pode ter um dia mau, é algo impossível de controlar, mas nunca pensamos no que não depende de nós. Preparámo-nos, ela está em muito boas condições e tem experiência suficiente para lidar com qualquer contratempo que surja. Uma pontinha de sorte é sempre bem-vinda nestas alturas, mas acreditamos muito mais no trabalho do que na sorte. Se não houver Jogos Olímpicos haverá Campeonato da Europa e várias outras competições, mas queremos muito ir a Paris. Nem sequer pensamos noutro cenário, estamos confiantes e acreditamos no melhor, mas estamos preparados para tudo.”