FC Porto e FC Barcelona. A mesma luta
Maria Leonor Coelho e M. T. Pérez
De bases bem estabelecidas nas respetivas regiões - o Norte de Portugal e a Catalunha – Dragões e Culés apresentam-se há décadas como forças de combate ao poder neutralizador de Lisboa e de Madrid.
No século XX, Portugal e Espanha enfrentaram regimes ditatoriais que vieram dar força ao poder central, prejudicando os clubes das segundas cidades ibéricas.
Em Portugal, durante o Estado Novo, o FC Porto enfrentou obstáculos inultrapassáveis que perturbaram o normal funcionamento da instituição, já que a ditadura teimava em concentrar todos os poderes na capital e impedia o crescimento dos clubes ditos periféricos.
Esta desigualdade de tratamento fez com que os azuis e brancos enfrentassem um período de grandes dificuldades que, durante décadas, os impediu de lutarem olhos nos olhos com os clubes de Lisboa.
Dentro das quatro linhas, episódios negros como a arbitragem de Inocêncio Calabote na velha Luz mancham a história do futebol luso. Fora delas, convém não esquecer a irradiação do presidente Cesário Bonito (por se ter insurgido contra as entidades federativas) nem as dispensas de atletas do Benfica e do Sporting enquanto Lemos e Seninho, entre tantos outros, foram obrigados a cumprir o serviço militar nas colónias ultramarinas.
Do outro lado da fronteira a ditadura era outra, mas o cenário semelhante, e o FC Barcelona também teve de enfrentar inúmeras restrições danosas para a identidade do clube. O regime franquista proibiu o uso de todos os símbolos catalães, como a língua ou a bandeira, e obrigou o Barça a suprimir tais elementos do emblema e do hino.
Além disso, os blaugranas sofreram fortes pressões políticas do governo centralista, viram-se forçados a tomar decisões que se alinharam com os interesses estatais e que colocaram em causa a autonomia do clube.
Durante o franquismo, o Governo controlava as transferências de jogadores e restringia a aquisição de grandes talentos estrangeiros por parte do Barça. Em sentido inverso, o Real Madrid nunca teve de lidar com esse tipo de impeditivos.
Ainda assim, FC Porto e FC Barcelona mantiveram-se fortes na luta anti-centralista e fiéis às identidades regionais, tentando combater as vontades do regime e alcançado o sucesso em democracia.
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Dos 40 campeonatos disputados antes do 25 de abril, os clubes de Lisboa conquistaram 35. Em 49 anos de liberdade, o FC Porto venceu mais de metade dos títulos do principal escalão.
Além das 25 Ligas ganhas em democracia, os azuis e brancos somam 16 Taças de Portugal, 23 Supertaças, uma Taça da Liga, uma Taça dos Campeões Europeus e uma Liga dos Campeões, uma Taça UEFA e outra Liga Europa, uma Supertaça Europeia e ainda duas Taças Intercontinentais.
À exceção da do SC Braga, que ergueu uma Intertoto, nenhuma outra massa adepta portuguesa teve o privilégio de festejar competições internacionais pós-revolução de abril.
O cenário é parecido em Espanha: durante o franquismo os clubes de Madrid venceram 21 campeonatos contra oito dos catalães, porém, desde a morte do ditador em 1975, o FC Barcelona já conquistou 18 campeonatos, três Mundiais de Clubes, cinco Ligas dos Campeões, quatro Taças das Taças, cinco Supertaças Europeias, 14 Taças do Rei, 14 Supertaças de Espanha e duas Taças da Liga.
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